segunda-feira, 25 de março de 2013

PASTORAIS SOCIAIS E SÓCIO EVANGELIZADOR DA DIOCESE DE IGUATU FAZEM DOÇÕES DE ALIMENTOS PARA FAMÍLIAS CARENTES ATINGIDAS PELA A SECA

uma comissão formada por representantes das pastorais sociais e da Associação Socio Evangelizador da Diocese de Iguatu, estiveram em campo na ultima sexta feira dia 22 de Março de 2013,Dia mundial da água, fazendo a Distribuição de 400 cestas de alimentos as famílias carentes atingidas pela seca nos municípios de: Saboeiro, Aiuaba e Arneiroz.

foi um gesto concreto de solidariedade e humanidade para com aqueles que sofrem com esta grande estiagem esperam que a chuva volte a cair no semiarido










quarta-feira, 20 de março de 2013

A briga pelos royalties

A briga pelos royalties


20 de março de 2013 | 2h 10

O Estado de S.Paulo


Ao contrário do que afirmam alguns congressistas, a decisão da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia de suspender temporariamente as novas regras de distribuição dos royalties do petróleo aprovadas pelo Congresso não diminui nem desrespeita os poderes e as competências do Legislativo. Judiciosamente argumentada, a medida liminar concedida pela ministra em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro contra a lei dos royalties apenas afasta o risco imediato de desrespeito a normas constitucionais. Além disso, evita a ocorrência de danos financeiros irreversíveis, mesmo que os cálculos de distribuição dos royalties venham a ser revistos.

Parlamentares contrariados com a decisão argumentam que, ao suspender a vigência das novas regras, a ministra Cármen Lúcia desconsiderou o fato de que essas regras foram aprovadas por ampla maioria no Congresso, que, para isso, em atitude rara, derrubou um veto presidencial. A questão, porém, não é de maioria, e sim de respeito à Constituição. "Política se pauta pela vontade da maioria, mas mesmo a vontade da maioria tem um limite, que é o limite estabelecido na Constituição", resumiu o advogado Luís Roberto Barroso, que assina a ação ajuizada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.

Depois de longa negociação, o Congresso havia aprovado uma fórmula de distribuição de royalties que agradava aos Estados não produtores de petróleo, em detrimento dos produtores. Por considerar que a medida feria direitos adquiridos dos Estados produtores e rompia contratos, por estender a nova fórmula de distribuição para as áreas que já estão produzindo petróleo, a presidente Dilma Rousseff vetou essa distribuição.

Com a derrubada do veto, os governos do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, os dois maiores produtores de petróleo do País, recorreram ao STF contra a lei que consideram inconstitucional. O governo do Estado de São Paulo - que hoje tem direito a uma fatia menor dos royalties, mas se tornará grande produtor caso as estimativas de produção da área do pré-sal se confirmem - também recorreu ao Supremo.

O governo do Rio argumentou que a aplicação do novo rateio dos royalties lhe imporia uma perda imediata de receita, já prevista em orçamento, de R$ 1,6 bilhão. Até 2020, as perdas podem alcançar R$ 27 bilhões, o que, segundo o autor da ação, afetará as obras para eventos como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.

Diante do risco iminente de perdas irreversíveis de receita por parte do governo do Rio, a ministra Cármen Lúcia decidiu com rapidez. Segundo ela, os argumentos jurídicos apresentados pelo governo fluminense, bem como "os riscos inegáveis à segurança jurídica, política e financeira dos Estados e municípios", impuseram sua decisão imediata de suspender a vigência da nova fórmula de distribuição dos royalties.

Referindo-se ao fato de que o Congresso estendeu a aplicação dessa fórmula ao petróleo que já está sendo extraído de blocos licitados há bastante tempo, alterando, portanto, contratos em plena vigência, a ministra observou: "Já se disse que o Brasil vive incertezas quanto ao futuro, mas tem também insegurança quanto ao presente e, o que é pior e incomum, também tem por incerto o passado".

Outro argumento utilizado pela ministra do STF baseia-se na definição que a Constituição dá a royalties e a seus titulares. Royalties são compensações devidas a Estados e municípios de onde são extraídos petróleo, gás natural ou outros recursos. Desse modo, não se pode falar em royalties do petróleo devidos a Estados de onde não se extrai nenhuma gota de petróleo.

Como previsto, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), informou que, tão logo a liminar seja publicada, o Legislativo apresentará as informações necessárias para tentar derrubá-la.

A irritação dos parlamentares com a decisão - que será examinada pelo plenário do STF, em data ainda não definida -, no entanto, nada tem a ver com os aspectos econômicos e constitucionais da questão, mas com seus interesses eleitorais contrariados.

Papa terá que enfrentar mito do Concílio Vaticano 2º

Papa terá que enfrentar mito do Concílio Vaticano 2º

MATEUS SOARES DE AZEVEDOESPECIAL PARA A FOLHA

Da substância dos 16 documentos elaborados durante o Concílio Vaticano 2º (1962-65) sobre uma variedade de assuntos, entre os quais o ecumenismo e a relação do catolicismo com outras religiões, pouco se conhece.

Tampouco são lembrados os encarniçados debates, as numerosas sessões, a história de sua convocação por João 23 e de sua conclusão, já sob a batuta de Paulo 6º.

Mas há rica e variada "mitologia" envolvendo o evento. Confrontá-la será o principal desafio de Francisco.

Tal mitologia sustenta que, antes do Vaticano 2º, a igreja era uma instituição retrógrada, superada, mesmo reacionária. O concílio teria sido uma lufada de ar fresco.

Mas, se a igreja tivesse sido esse corpo fossilizado, como teria sobrevivido aos inúmeros desafios e confrontos que a ameaçaram?

Se fosse tal como a descrevem, certamente não teria sobrevivido ao fascismo, nem ao comunismo de Stálin, tampouco ao liberalismo. A verdade é que os documentos do concílio não são conhecidos senão de especialistas.

O Vaticano 2º se tornou como um "bezerro de ouro" para muitos. Tornou-se tão sacrossanto que não pode ser criticado ou questionado.

Os meros resultados quantitativos do concílio, contudo, são desastrosos para a própria tradição que ele supostamente veio renovar. Os números e a situação espiritual geral mostram que o projeto fracassou.

Esperava-se uma "renovação", mas o que se tem visto após meio século são secularização e dessacralização crescentes da sociedade, abandono da fé por milhões, escândalos morais e corrupção financeira.

Parafraseando Nelson Rodrigues, resta saber o que Francisco fará para impedir que a América Latina logo se torne "o maior continente ex-católico do mundo".

A primeira coisa é colocar a verdade no lugar do mito do concílio.

MATEUS SOARES DE AZEVEDO é mestre em história das religiões pela USP

ESTADÃO – 20/03/2013

Em missa de estreia, papa pede a líderes que evitem guerras

Em missa de estreia, papa pede a líderes que evitem guerras

Francisco dispensou o papamóvel blindado e desfilou de jipe aberto; ele foi aplaudido ao beijar um deficiente

Pontífice pregou ante 48 mandatários, entre os quais o ditador do Zimbábue, proibido de visitar a União Europeia

BERNARDO MELLO FRANCOFABIANO MAISONNAVEFELIPE SELIGMANENVIADOS ESPECIAIS A ROMA

Na missa inaugural de seu pontificado, o papa Francisco prometeu ontem dar atenção especial aos pobres e necessitados e disse que os pontífices devem usar o poder para servir ao próximo de forma "humilde e concreta".

Ele reforçou a mensagem ao dispensar o papamóvel blindado, que era usado pelo antecessor Bento 16, e optar por um jipe aberto para circular mais próximo aos fiéis na praça de São Pedro.

No trajeto, voltou a quebrar o protocolo e surpreendeu a segurança ao descer do veículo para beijar um deficiente. O gesto foi aplaudido pelo público, estimado em 150 mil pessoas pela Santa Sé.

"Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço e que o próprio papa, para exercê-lo, (...) deve se mirar no serviço humilde, concreto e rico de fé de são José", disse, na homilia.

O novo papa prometeu acolher "especialmente os mais pobres, os mais fracos e os mais pequeninos". "Quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão", acrescentou, citando o Evangelho de são Mateus.

Francisco afirmou que os sentimentos de ódio, inveja e orgulho "sujam a vida" e receitou mais compaixão aos fiéis. "Não devemos ter medo de bondade e de ternura."

Diante dos 48 chefes de Estado e de governo e três príncipes, o pontífice pediu que as autoridades políticas e econômicas cuidem do ambiente e evitem as guerras. "Não deixemos que o signo da destruição e da morte acompanhe o caminho do nosso mundo", afirmou.

A missa foi acompanhada pela presidente Dilma Rousseff, que hoje se reúne com o papa. Havia ainda presenças polêmicas, como a do ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, que está proibido de viajar à União Europeia, mas foi autorizado a pousar na Itália para a missa.

"ARRUME A CASA"

O papa emérito Bento 16 foi homenageado no início da homilia, mas não compareceu à missa do sucessor. Os dois devem almoçar no sábado, em Castel Gandolfo.

Na praça, uma faixa estendida por fiéis pedia que o novo pontífice "arrume a casa", numa referência aos escândalos de pedofilia e corrupção que atingiram a igreja nos últimos anos.

Eleito há uma semana depois de entrar no conclave fora das listas de favoritos, Francisco recebeu o anel de pescador, símbolo do papado, às 9h46 locais (5h46 de Brasília). O ato foi saudado com gritos de "viva il papa!".

A missa incluiu outros rituais de posse, como a oração diante do mausoléu de são Pedro, no subsolo da Basílica de São Pedro, e a entrega do pálio, acessório usado sobre as vestes do papa.

A faxina do papa Francisco

A faxina do papa Francisco

A tarefa do "fratello" parece grande, mas é simples, basta que use seus poderes de monarca absoluto

O PAPA Francisco assumiu três reinados. Um, espiritual, alcança 1,2 bilhão de pessoas. Outro relaciona-se com a estrutura mundial da Igreja, com cerca de 3.000 bispos e um milhão de padres e religiosas. Finalmente, vem o Vaticano, com a Cúria Romana.

Certa vez perguntaram a João 23 quantas pessoas trabalhavam na Cúria, e ele disse: "A metade". São 3.000 pessoas, respondendo a uma dezena de cardeais e a centenas de monsenhores. Apesar da pompa e da fama, a receita da Cúria Romana (cerca de R$ 700 milhões) é menor que a da Prefeitura de Nova Iguaçu (R$ 1,1 bilhão). Ela tem um braço financeiro no Banco do Vaticano, cujo ativo (R$ 16 bilhões) o coloca como um tamborete diante do Itaú (R$ 1 trilhão). Sua força está no poder que irradia.

Os papas mantêm imperial distância em relação a esses negócios, delegando-os a colaboradores próximos. Ao tempo de João Paulo 2º, o monsenhor poderoso na Cúria era seu secretário, Stanislaw Dziwisz, atual arcebispo de Cracóvia. Com Bento 16, veio o monsenhor Georg Gänswein, apelidado de "George Clooney do Vaticano". Em torno do papa circulam questões espirituais e iniciativas diplomáticas, mas frequentemente ele se vê atropelado por roubalheiras e intrigas municipais numa corte onde o poder dos cardeais vem de conexões típicas da política italiana, a do "bunga-bunga" Berlusconi.

Pela essência espiritual da Igreja Católica e pelo caráter absolutista de sua monarquia, tudo o que acontece no mundo acaba naquilo que se costuma considerar a "crise da Igreja". Se o arcebispo de Boston ou o de alguma diocese brasileira protegia pedófilos, o malfeito vai para a conta dessa crise.

Se o contínuo do prefeito de Nova Iguaçu furtar papéis de sua mesa, isso talvez não chegue a ser notícia nem sequer nos jornais do Rio de Janeiro. Quando o mordomo de Bento 16 varejou sua mesa, o que apareceu de mais estarrecedor foram as queixas do monsenhor Carlo Maria Viganó, secretário-geral da administração da Santa Sé. Por trás da campanha contra o padre estava o dedo do secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone. Pela qualidade e pelo montante envolvido, a irregularidade era um amendoim se comparada ao escândalo dos Legionários de Cristo do padre Marcial Maciel, quindim da plutocracia mexicana e de cardeais sobre os quais aspergia doações, um pedófilo promíscuo, que deixou seis filhos. Sua punição por Bento 16 foi severa, mas poderia também ter sido exemplar se tivesse exposto o exemplo, expondo suas relações em Roma. Bolas como essa estão quicando para o papa Francisco chutar.

Os cardeais italianos que vivem na política da Santa Sé são constrangedoramente municipais. Angelo Sodano, o poderoso secretário de Estado de João Paulo 2º, levou um ano para desocupar o gabinete quando Bento 16 substituiu-o por Bertone, que, por sua vez não fazia seu serviço. Os chefes da segurança do pontífice movem-se com um desembaraço sem similar nas democracias europeias.

As tramas e os interesses materiais da Cúria são chinfrins. Superfaturaram até um presépio da praça de São Pedro. Estendem-se sobre obras, eventos, verbas hospitalares, orçamentos de escolas, viagens, mordomias e proteções. Para limpar Roma, basta jogar detergente.

DITADURA

Associações de juízes contestam declarações do presidente do STF

Associações de juízes contestam declarações do presidente do STF

DE SÃO PAULO

As associações de juízes do país rebateram as declarações de Joaquim Barbosa afirmando que as relações de amizade entre magistrados e advogados em geral não prejudicam a imparcialidade.

Nino Toldo, presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil, disse que "os códigos de ética da magistratura não proíbem a amizade com advogados. O juiz não faz voto de isolamento social. É um exagero superdimensionar as situações pontuais".

Para o presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, Renato Sant'Anna, "esse tipo de acusação genérica não é compatível com um membro do Judiciário. Se existe irregularidade, é preciso apontar quem, onde e quando".

Henrique Calandra, presidente da Associação dos Magistrados do Brasil, disse que "o comportamento dos juízes é reto, e os casos que chegam ao CNJ são exceções".

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcus Vinícius Furtado, disse que a OAB "está à disposição do ministro Joaquim Barbosa caso queira denunciar algum caso de lobby".

ELIO GASPARI

Barbosa aponta 'conluio' entre juízes e advogados

Barbosa aponta 'conluio' entre juízes e advogados

Presidente do STF ataca magistrado que recebe a defesa sem a parte contrária

Tourinho Neto contestou Barbosa e disse que relação entre juiz e advogado nem sempre é interesseira

DE BRASÍLIA

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, atacou ontem o que chamou de "conluio entre juízes e advogados" e afirmou que essa situação revela o que existe de mais "pernicioso" na Justiça brasileira.

Barbosa fez as declarações em uma sessão no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que decidiu aposentar um juiz do Piauí acusado de beneficiar advogados. "Há muitos [juízes] para colocar para fora. Esse conluio entre juízes e advogados é o que há de mais pernicioso. Nós sabemos que há decisões graciosas, condescendentes, absolutamente fora das regras", afirmou.

Barbosa disse que é preciso ter transparência nas reuniões: "Não há nada demais juiz receber advogado, mas o que custa trazer a parte contrária ao advogado? É a recusa, a falta dessa notificação, da transparência que faz o mal-estar". Para o presidente do STF, essa prática garante "igualdade de armas".

CRÍTICAS

Oriundo do Ministério Público Federal, Joaquim Barbosa é conhecido por ser crítico da proximidade entre juízes e advogados e já teve vários embates com a defesa, principalmente no caso do julgamento do mensalão.

No STF desde 2003, ele diz que só discute um caso com a defesa se todas as partes estiverem no mesmo encontro. Outros ministros adotam metodologia diferente e recebem advogados de uma só parte.

A previsão para que juízes e ministros recebam advogados está na Lei Orgânica da Magistratura e no Estatuto da Advocacia. A Lei da Magistratura diz que os juízes precisam tratá-los com urbanidade e atendê-los quando se trata de uma providência que reclame solução de urgência.

Já o estatuto aponta que é um direito do advogado dirigir-se aos magistrados nas salas e gabinetes, independente do horário marcado.

CONTRAPONTO

Único a votar contra a aposentadoria do juiz do Piauí na reunião do CNJ, o conselheiro Tourinho Neto fez o contraponto a Barbosa durante o debate. Desembargador da 1ª Região, Tourinho disse que não é possível inferir que toda relação de juiz e advogado é interesseira.

"Juiz não pode ter amizade nenhuma com advogado? Isso é uma excrescência. [...] Fui juiz do interior da Bahia, tomava uísque na casa de um, tomava cerveja na casa de outro, e isso nunca me influenciou", disse. Tourinho, que há pouco foi criticado por mandar soltar o empresário Carlos Cachoeira, disse que é preciso separar as relações.

Tourinho lembrou -mas sem citar o nome do ministro envolvido- a viagem do ministro do Supremo José Antonio Dias Toffoli à Itália para o casamento de um amigo criminalista, o advogado Roberto Podval, em 2011: "Tem juiz que viaja para o exterior com festa paga por advogado, e aí nada acontece".

Ele comentou a sugestão de Barbosa de colocar juízes "para fora": "Se for colocar juiz analfabeto para fora, tem que botar muita gente, inclusive de tribunais superiores".

O desembargador respondeu ainda às críticas de Barbosa e disse que ele era "mais duro que o diabo". Tourinho afirmou ainda que os juízes estavam acovardados enquanto Barbosa gozava da notoriedade obtida com a relatoria do processo do mensalão: "Quem sabe não será o próximo presidente da República?"

(MÁRCIO FALCÃO)

Oposição descalibrada

Oposição descalibrada

BRASÍLIA - No terceiro dia de Itália, Dilma Rousseff finalmente conseguiu 24 segundos cumprimentando o papa Francisco. Garantiu presença nos telejornais. Hoje, terá uma reunião mais longa com o pontífice. E tome mídia espontânea a favor.

Enquanto isso, no Brasil, saiu uma pesquisa Ibope sobre a popularidade da administração da presidente.

Em dezembro, 62% achavam o governo da petista "bom" ou "ótimo". Agora, a taxa é de 63%. No Nordeste, a avaliação deu um salto expressivo, acima da margem de erro: de 80% para 85% de aprovação.

Múltiplos fatores sustentam a alta popularidade de Dilma. Embora óbvio, não custa repetir um dos principais: o nível de desemprego continua em patamar histórico muito baixo.

Mas a pesquisa Ibope revela algumas curiosidades menos evidentes. Por exemplo, 20% dos brasileiros acham o governo Dilma melhor do que o de Lula.

Esse percentual nunca foi tão alto e, pela primeira vez, é superior aos 18% que acham a administração Dilma inferior à de Lula. É a criatura aos poucos superando o criador.

Outro dado chama a atenção: a percepção das pessoas sobre o noticiário a respeito do governo Dilma. Pela primeira vez desde o início do mandato da petista, há mais brasileiros achando que a abordagem é mais positiva (38%) do que neutra (34%) ou negativa (11%).

A oposição dirá que os entrevistados são influenciados pela recente avalanche de propaganda do governo. Brasil sem Miséria e remédios de graça são duas campanhas que martelam a cabeça dos brasileiros na TV no momento.

Pode ser. Mas os três pré-candidatos a presidente de oposição -Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede)- têm recebido espaço farto para atacar a gestão Dilma na mídia. Em vão. O discurso não sensibilizou os eleitores. A estratégia anti-Dilma parece ainda bem descalibrada.

Cautela suprema


Cautela suprema

Diante das incertezas envolvidas e das cifras em disputa, não há como deixar de reconhecer o bom-senso da ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, ao suspender, em caráter provisório, os efeitos da lei que alterou a divisão dos royalties do petróleo entre Estados e municípios brasileiros.

A decisão foi tomada em ação proposta pelo governo do Rio de Janeiro, que considera inconstitucionais as regras aprovadas pelo Congresso Nacional. Até que o plenário do STF examine a questão -o que deve ocorrer em abril-, continua valendo a lei antiga.

Embora o líder do PT na Câmara dos Deputados, José Guimarães (CE), tenha dito que a sentença "deixou todo mundo tonto", não há surpresa na determinação da ministra. Ela nada mais fez que aplicar ao caso concreto o princípio por trás das medidas liminares: evitar um dano irreparável ou de difícil reparação.

O risco de prejuízo é evidente. A nova fórmula de rateio dos royalties diminui, já em 2013, a receita de Estados e municípios produtores de petróleo -a fatia a que têm direito é reduzida, respectivamente, de 26,25% para 20%, e de 26,25% para 15%.

Em valores absolutos, o impacto imediato da mudança para o Estado do Rio de Janeiro chegaria a R$ 1,6 bilhão, segundo o governador Sérgio Cabral. Espírito Santo e São Paulo também sairiam prejudicados, mas em proporções menores.

Seria um despropósito se esses três Estados e os municípios produtores de petróleo se vissem obrigados a abrir mão de parte de suas receitas antes de a nova lei dos royalties ter sua constitucionalidade examinada. É sem dúvida mais prudente aguardar a decisão definitiva do Supremo -que tem diante de si uma questão delicada.

Os parlamentares aprovaram a mudança das regras mesmo para áreas petrolíferas já licitadas, não só para contratos futuros, como seria o ideal. Afetaram, assim, a legítima expectativa de diversos Estados e municípios. O desequilíbrio da norma, contudo, não basta para torná-la inconstitucional.

Caberá ao plenário do Supremo dizer se a nova lei viola princípios constitucionais, como o direito adquirido (por atingir contratos em vigor) ou a segurança jurídica (por comprometer receitas previstas).

Seja como for, o STF precisa decidir o quanto antes e da forma mais transparente possível. Prolongar o cenário de incertezas é ruim, mas passar a impressão de que o Judiciário tomou algum partido que não o da Carta seria ainda pior.

FERNANDO RODRIGUES

Líderes comunitários e órgãos públicos discutem conflitos agrários em Vilhena

Líderes comunitários e órgãos públicos discutem conflitos agrários em Vilhena


Uma audiência pública sobre conflitos agrários aconteceu em Vilhena, na quinta-feira (14), organizada pela Central de Associações de Vilhena, na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) para discutir as situações emergenciais de áreas que estão na iminência de cumprimento de sentenças de ações judiciais de reintegração de posse .

O Lote 53 da Gleba Corumbiara, ocupado por mais de quarenta famílias da Associação dos Produtores do Rio d'Ávila (Asprova), desde 1991, foi evidenciado na audiência já que está com ordem de reintegração de posse a ser cumprida a qualquer momento. A área em litígio é de 1.888 hectares e está há sete anos em processo judicial.

Também foram apresentados os problemas das áreas: Lotes 77 e 78, fazenda Boa Esperança, lote 84, fazenda Dois Pinguins, lotes 57 (União da Vitória) e 58, lote 52, área do Exército, lote 56 (PA Águas Claras) e acampamento Barro Branco, todos na região do Cone Sul.

Josep Iborra Plans, da
Comissão Pastoral da Terra
, relatou que os agricultores estão preocupados com as constantes ameaças de pretensos proprietários, homicídios, além de várias situações em que pessoas sem perfil de beneficiárias da reforma agrária vêm ocupando lotes e ameaçando famílias assentadas.

O superintendente do INCRA, Luiz Flávio Carvalho Ribeiro, informou que a maioria dos conflitos de Rondônia está nas regiões de Vilhena, Buritis e Machadinho. Segundo ele, as áreas são oriundas de Contratos de Alienação de Terras Públicas (CATP’s) e outros títulos não definitivos. “Quando foram expedidos, os beneficiários tinham um projeto a cumprir, que muitas vezes não cumpriram na integridade ou não realizaram todos os pagamentos devidos, abandonando as áreas que foram em geral reocupadas”.

O superintendente explicou que a competência sobre essas áreas não é mais do Incra, é do programa Terra Legal, que identifica os proprietários e verifica se cumpriram as cláusulas. Porém assinalou: “O Incra deve andar junto com o Terra Legal. Estamos fechando acordos e enviando processos para serem analisados”.

Ele observou ainda que as terras só poderão ser destinadas a família com perfil de beneficiária da reforma agrária, conforme a legislação, com preferência às que estão no Cadastro Único dos programas sociais do governo federal. E alertou: “O melhor caminho para as famílias que querem ser assentadas é procurar o Incra e não ocupar as terras de qualquer maneira para depois lutar na justiça”.

Defensoria pública

Na audiência foi destacada a participação da Defensoria Pública Agrária do Estado que conseguiu a suspensão de ações de reintegração de posse. “A defensoria tem desempenhado um importante papel, primando pelos direitos dos cidadãos envolvidos em disputas possessórias e observando a necessidade de garantia dos direitos humanos”, declarou a ouvidora agrária no estado, Márcia Pereira.

O papel da Ouvidoria Agrária também foi enfatizado. "Mediação dos conflitos com a busca do diálogo para evitar confrontos é o nosso papel", conforme explicou a ouvidora. “Estamos nos empenhando para que a reintegração não aconteça. Como estado temos leis a cumprir e trabalhamos para que as coisas aconteçam dessa forma”, afirmou.

O deputado federal Padre Ton falou sobre a dificuldade com a bancada ruralista, que não aprova as leis a favor da reforma agrária, como por exemplo, a lei que pede audiência pública para ações de despejo dessa natureza. Ele ressaltou que a cada eleição reduz o número de deputados oriundos da agricultura familiar.

Padre Ton anunciou a realização de uma audiência pública estadual no dia 25 de abril, com a participação da Comissão de Direitos Humanos, Incra, Terra Legal, Polícia Civil, Procuradoria Geral da Justiça, Defensoria Agrária, Advocacia Geral da União, Polícia Federal, etc. de acordo com confirmação do Ouvidor Agrário Nacional, desembargador Gercino José da Silva Filho

Na audiência estiveram presentes ainda as lideranças comunitárias da região, o delegado regional do MDA, Genair Capelini, o policial militar agrário da região, coronel Bonfim, o representante da Defensoria Pública Agrária do Estado, Guilherme Ornelas, representantes da Secretaria de Agricultura de Vilhena, da Câmara dos Vereadores e da Secretaria de Agricultura do Estado.

FOLHA DE SÃO PAULO – 20/03/2013

sexta-feira, 8 de março de 2013

Casaldáliga diz que recebeu novas ameaças de morte por defender indígenas no MT



Casaldáliga diz que recebeu novas ameaças de morte por defender indígenas no MT


O bispo emérito de São Félix do Araguaia (MT), d. Pedro Casaldáliga, disse à Carta Maior que as comunidades sofrem os efeitos da implementação de projetos não sustentáveis, do ponto de vista do respeito às culturas e ao desenvolvimento participativo.





Casaldáliga afirmou que as ameaças são anônimas e chegam à sua residência por todos os meios: telefonemas, internet e falsas mensagens. Perguntado sobre a eleição do novo Papa, d.Pedro preferiu denunciar as ameaças de morte, além de afirmar a sua fé "na esperança da ressurreição".



Catalão de nascimento e cidadão do mundo, Casaldáliga é escritor e poeta. Durante a ditadura civil-militar de 1964/1985, escapou de uma tentativa de assassinato, em Mato Grosso. O pistoleiro errou os tiros e, em vez do bispo, foi morto o padre João Bosco Penido Burnier, jesuíta. Sua expulsão do Brasil foi pedida muitas vezes aos generais-presidentes da ditadura, não apenas pelos chefes golpistas, mas também por religiosos de direita.



Diante de toda pressão para expulsá-lo, o próprio papa Paulo VI comunicou ao governo brasileiro que se ocorresse a retirada forçada de d. Pedro Casaldáliga, o Vaticano romperia sua multissecular tradição de não romper relações diplomáticas com nenhum país. O Brasil seria o primeiro.

Amazônia
Nos anos 70, Casaldáliga publicou uma carta pastoral de denúncia contra a exploração do trabalho e sobre a progressiva destruição da floresta amazônica. O documento tornou-se uma peça obrigatória no interrogatório dos presos políticos ligados às pastorais sociais da Igreja Católica Romana.

Mais recentemente, o bispo teve confirmado o diagnóstico médico sobre a Síndrome de Parkinson. Com o corpo magro e frágil, d. Pedro continua a levantar sua voz contra as estruturas sociais baseadas no latifúndio, na morte dos indígenas e na destruição da Amazônia. Integra a Congregação dos Claretianos, que realiza atividades missionárias em todo o mundo.

-- 
_____________
Cristiane Passos
Assessoria de Comunicação
Comissão Pastoral da Terra
Secretaria Nacional - Goiânia, Goiás.
Fone: 62 4008-6406/6412/6400
www.cptnacional.org.br
 
“O sistema só tolera / Dois tipos de componentes:/ Os tiranos que exploram
E os subservientes. / Os que lutam por justiça / Serão sempre dissidentes.”
(Fábio Mozart - cordel sobre Biu da Pacatuba - apelido de Severino Alves Barbosa, um dos principais líderes das Ligas Camponesas na Paraíba). 

Dignidade rural



Dignidade rural

A reforma agrária pressupõe a democratização do acesso à terra e estruturas que viabilizem a produção. Logo, é impossível dizer que a reforma agrária não deu certo, pois ela não ocorreu

07/03/2013

Fernando Prioste

Dias atrás, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, disse que alguns assentamentos do Incra são “quase favelas rurais”. Foi a deixa que os opositores dos movimentos sociais do campo queriam para enterrar a reforma agrária.

Contudo, democraticamente a sociedade inscreveu na Constituição o marco legal da reforma agrária. Assim, o dever de fiscalização do cumprimento da função social da propriedade, e a consequente destinação das terras improdutivas, com danos ambientais e violações às leis trabalhistas à reforma agrária, é decisão política que a sociedade transformou em lei. Logo, se a Constituição não for alterada, a reforma agrária é política pública obrigatória.

Não é apenas por determinação da Constituição que a reforma agrária deve ser impulsionada. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), por exemplo, recomendam sua realização como política pública para a erradicação da pobreza e efetivação de direitos humanos como a alimentação adequada e a educação. Para esses órgãos, a concentração fundiária e a ausência de políticas públicas de produção para a agricultura familiar estão ligadas à pobreza e às desigualdades sociais.

Segundo o Censo Agropecuário de 2006, o Brasil ocupa a segunda posição mundial na concentração da terra, perdendo para o Paraguai. O índice de concentração fundiária apurado em 2006 (0,872) aumentou ante aos apurados em 1985 (0,857) e 1995 (0,856). Até o ano de 1985 existiam 67 assentamentos de reforma agrária, com 117 mil famílias assentadas, totalizando 9,8 milhões de hectares incorporados à reforma agrária. Hoje existem 8.792 assentamentos, com 921 mil famílias, totalizando 85 milhões de hectares. Logo, mesmo com a expansão de assentamentos a concentração fundiária aumentou.

Por outro lado, as demandas por infraestrutura e assistência técnica não são exclusividade do MST. Também são reivindicações dos grandes produtores. A diferença é que uns são bem atendidos nesses reclamos há 500 anos, outros não. Que dizer do apoio histórico do Estado ao setor da cana-de-açúcar? As reivindicações dos movimentos sociais buscam consolidar uma política pública que, diferente daquelas assistencialistas, cria estruturas para a emancipação socioeconômica.

Dados do Censo de 2006 mostram que a agricultura familiar representa 84% dos estabelecimentos rurais, ocupando apenas 24,03% das áreas cultivadas, assim operando com renda cerca de dez vezes menor que os estabelecimentos da agricultura não familiar. Ainda assim, segundo o IBGE, a agricultura familiar produz a maior parte dos alimentos consumidos no mercado interno (60%), com 74% do total da mão de obra ocupada no campo.

A reforma agrária pressupõe a democratização do acesso à terra e estruturas que viabilizem a produção. Logo, é impossível dizer que a reforma agrária não deu certo, pois ela não ocorreu. Quem se opõe a esse processo democrático não tem compromisso com a Constituição e fomenta o aumento da desigualdade social. Ademais, se ainda há diversidade alimentar na mesa, agradeça a uma agricultora familiar. Do contrário, contente-se em comer milho, soja e carne nas três refeições.

Fernando Prioste é advogado popular e coordenador da Terra de Direitos

--

_____________

Cristiane Passos

Assessoria de Comunicação

Comissão Pastoral da Terra

Secretaria Nacional - Goiânia, Goiás.

Fone: 62 4008-6406/6412/6400


 

“O sistema só tolera / Dois tipos de componentes:/ Os tiranos que exploram

E os subservientes. / Os que lutam por justiça / Serão sempre dissidentes.”

(Fábio Mozart - cordel sobre Biu da Pacatuba - apelido de Severino Alves Barbosa, um dos principais líderes das Ligas Camponesas na Paraíba).

 

Carta Aberta da CNBB sobre o Marco Regulatório da Mineração



Carta Aberta da CNBB sobre o Marco Regulatório da Mineração

Preocupa-nos a proposta, no novo Marco Regulatório, da criação das áreas de relevante interesse mineral e das regiões de interesses estratégicos. Nestas áreas a mineração seria feita a partir de procedimentos especiais que podem ferir o bem comum, além de provocar uma inversão de prioridade entre os direitos individuais e coletivos e o interesse econômico, público e privado", afirma o Conselho Permanente da CNBB que aprovou e divulgou na tarde desta quinta-feira, 7 de março, uma Carta Aberta à população brasileira denunciando o modo como está sendo encaminhado o processo de elaboração do novo Marco Regulatório da Mineração no país.

O texto foi publicado pelo Boletim da CNBB, 07-03-2013.

Eis o texto.



A necessidade de reformular a atual lei que regulamenta a mineração no nosso país levou o governo a elaborar o novo Marco Regulatório da Mineração que, brevemente, deverá ser enviado para aprovação do Congresso Nacional. Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, reconhecendo a importância da atividade mineradora e a sua regulamentação, julgamos oportuno trazer a público nossas preocupações com relação à nova lei que está sendo proposta.



Devido à amplitude da lei, consideramos de fundamental importância que se promova um amplo debate com a sociedade e as populações a serem impactadas pelas atividades mineradoras. A ausência do debate público, percebido até o momento, impede a população de conhecer e opinar sobre assunto de grande relevância social e ambiental, que tem efeitos diretos em sua vida.



Vivemos numa crescente demanda por apropriação dos bens naturais em nível global, transformando-os em mercadoria e assumindo-os como uma oportunidade de negócios. O governo, por sua vez, vê na extração mineral um dos pilares para sustentar o modelo de desenvolvimento econômico em curso no país, baseado no sistema de commodities.

 

O aumento de preços dos minérios desperta o interesse tanto do governo quanto das mineradoras, tornando-se, assim, motivação maior para o novo Marco Regulatório da Mineração. Reconhecido seu interesse público, a nova lei, acima de tudo, prioriza o aspecto econômico da extração mineral, em detrimento dos aspectos sociais, ambientais, espirituais e culturais dos territórios e de suas populações.

Preocupa-nos a proposta, no novo Marco Regulatório, da criação das áreas de relevante interesse mineral e das regiões de interesses estratégicos. Nestas áreas a mineração seria feita a partir de procedimentos especiais que podem ferir o bem comum, além de provocar uma inversão de prioridade entre os direitos individuais e coletivos e o interesse econômico, público e privado.

A exploração mineral é uma atividade que provoca impactos em povos, comunidades e territórios, gerando conflitos em toda sua cadeia: remoções forçadas de famílias e comunidades; poluição das nascentes, dos rios e do ar; degradação das condições de saúde; desmatamento; acidentes de trabalho; falsas promessas de prosperidade; concentração privada da riqueza e distribuição pública dos impactos; criminalização dos movimentos sociais; descaracterização e desagregação sociocultural.



Esclareça-se que “a programação do desenvolvimento econômico deve considerar atentamente a necessidade de respeitar a integridade e os ritmos da natureza, já que os recursos naturais são limitados e alguns não são renováveis” (João Paulo II, A solicitude social n. 26). “Toda utilização da natureza, todo o progresso ou desenvolvimento econômico feito às custas de sua destruição está marcado pela loucura que gera morte” (Nota da CNBB ‘Ouvir o eco da vida’ – 1992).



A mineração em terras indígenas é outra grave preocupação suscitada pelo Projeto de Lei 1.610/96, tramitando no Congresso sem nenhuma interação com o Estatuto dos Povos Indígenas, que espera aprovação desde 1991. O Projeto de Lei 1.610/96 desrespeita totalmente a autonomia dos povos indígenas sobre seus territórios, assegurada pela Constituição Federal e pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é signatário. As mesmas ameaças recaem sobre comunidades quilombolas, populações tradicionais, pequenos agricultores e áreas de proteção ambiental.

 

 



O desenvolvimento não justifica tudo e não é verdadeiro quando reduzido “a um simples crescimento econômico”. Para ser autêntico, recorda-nos o Papa Paulo VI, “o desenvolvimento deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo” (Populorum  Progressio, n. 14), buscando o equilíbrio e a integração de toda a criação.



Diante disso, solicitamos aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário que:

a) seja instituída uma etapa prévia de debates na sociedade civil sobre o conteúdo da nova Lei da Mineração, anterior à sua apreciação pelo Congresso Nacional;

b) a reforma da lei geral da Mineração considere em primeiro lugar os interesses das comunidades ocupantes dos territórios passiveis de atividade mineral;

c) a discussão do Projeto de Lei 1.610/96 sobre mineração em terras indígenas seja vinculada à aprovação prévia do Estatuto dos Povos Indígenas.

Conclamamos as pastorais, os movimentos sociais, as entidades de defesa dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais, bem como todas as pessoas de boa vontade a se unirem numa plataforma comum de debate sobre os impactos da mineração. Insistimos que acompanhem as comunidades atingidas, assegurando que toda atividade mineradora e industrial tenha como parâmetro o bem estar da pessoa humana, a superação dos impactos negativos sobre a vida em todas as suas formas e a preservação do planeta, com respeito ao meio ambiente, à biodiversidade e ao uso responsável dos bens naturais.

 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Ciclo do Vaticano 2º se encerra com um dos seus ideólogos


Ciclo do Vaticano 2º se encerra com um dos seus ideólogos

MATEUS SOARES DE AZEVEDOESPECIAL PARA A FOLHA

ABRE-SE NOVA FASE, ENVOLVENDO A APLICAÇÃO DE PRINCÍPIOS PERENES AOS DESAFIOS DO SÉCULO 21

Entre os 265 papas que ocuparam a Sé romana, o caso de Bento 16 é singular. Ele foi o único a ter renunciado por livre e espontânea vontade.

Houve outros casos, muito poucos, mas que não foram exatamente iguais por terem envolvido pressões e ameaças, ou seja, foram "renúncias" forçadas. Podem citar-se Bento 9º (1032-45), Gregório 6º (1045-46), Gregório 12 (1406-15) e o mais célebre de todos, Celestino 5º (1294).

A abdicação de Celestino foi tão chocante para Dante Alighieri que o poeta o colocou no Inferno de sua "Divina Comédia". Ele vivia apartado do mundo, em uma gruta no centro da Itália. A demora dos cardeais em escolher o sucessor de Nicolau 4º, que morrera havia já mais de dois anos, fizeram o eremita redigir carta prevendo "graves castigos" para a igreja.

Os cardeais decidiram fazer do próprio eremita o papa Celestino 5º. Este, já com 80 anos, recusou o convite. Forçado, porém, relutantemente aceitou. Mas não durou meio ano no Vaticano e o establishment clerical pressionou-o a abdicar.

Antes, Bento 9º fora o primeiro pontífice obrigado a abdicar, em 1045. Seu sucessor, Gregório 6º, também foi forçado a renunciar. O penúltimo papa a abdicar havia sido Gregório 12 (1406-15). Sua renúncia estava vinculada aos esforços para pôr fim ao Grande Cisma do Ocidente. Este incluiu o inusitado episódio em que havia três papas simultâneos; todos foram forçados a abdicar em nome da unidade da cristandade.

Vê-se, assim, que se o termo usado para descrever estes poucos casos é o mesmo, isto é, "renúncia", suas circunstâncias foram bem distintas. O único caso 100% convincente foi o de Bento 16.

Seu caráter inusitado levanta questões sobre o futuro. Um dos aspectos é a perplexidade que engendrou. Afinal, se o pontífice é o sucessor de Jesus Cristo, se é a "sombra de Deus na Terra", como um religioso poderia se furtar a tal chamado?

O ato implicaria então incompreensão da natureza profunda da função, dado que esta não envolve apenas encargos administrativos, como foi alegado na renúncia.

O papado envolve dimensões espirituais incomensuráveis com o trabalho de um mero CEO. Ademais, tais encargos burocráticos poderiam ser delegados a outros. Assim, foi dada ênfase ao temporal, ao invés de no espiritual. O cardeal polonês Dziwisz expressou metaforicamente: "Da cruz não se desce."

Outra metáfora, dos Evangelhos, diz que pelos frutos a árvore é conhecida. Ela cabe aqui se a abdicação for encarada como fruto diferido da revolução iniciada na igreja nos anos 60 e que teve em Ratzinger um de seus teólogos.

No final, fica a questão: constituiria a renúncia sinal de esgotamento do "espírito do Vaticano 2º"? A resposta é sim: o ciclo agora se fecha, meio século após o concílio, com o mesmo homem que foi um de seus ideólogos.

Nova fase se abre, segundo visões como a do "cardeal negro", Peter Turkson, de renovação espiritual, envolvendo a aplicação de princípios e valores perenes e universais ("católicos") aos desafios do século 21.

MATEUS SOARES DE AZEVEDO, mestre em história das religiões pela USP, é autor de "Homens de um Livro Só".

Em Marabá, no PA, Pastoral da Terra denuncia distribuição ilegal de terras

Em Marabá, no PA, Pastoral da Terra denuncia distribuição ilegal de terras

Área doada teria motivado o assassinato de um casal de extrativistas.
Incra cedeu as terras para família do homem acusado do crime.

O documento do Incra com a lista de pessoas beneficiadas pela reforma agrária, em Nova Ipixuna, mostra o nome de Antônia Nery de Souza na condição de assentada. Ela é mulher de José Rodrigues Moreira, cujo nome também aparece no documento. Ele está preso, acusado de ser o mandante do assassinato do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo Silva.
O crime foi em maio de 2011. José Claúdio e Maria foram mortos a tiros em uma emboscada no assentamento Praia Alta Piranheira, onde desenvolviam um trabalho de uso sustentável dos recursos da floresta.
De acordo com as investigações da polícia, José Rodrigues Moreira teria comprado ilegalmente 144 hectares de terra dentro do assentamento para criar gado. Metade do terreno era ocupada por três famílias, que passaram a ser ameaçadas de expulsão. O casal assassinado dava apoio a esses agricultores.
O terreno que motivou toda essa disputa é justamente o que foi entregue pelo Incra para a mulher do acusado. A decisão é de dezembro do ano passado, mas só agora foi descoberta pela Comissão Pastoral da Terra.
Outro documento mostra que sete meses antes, o superintendente do instituto em Marabá, Edson Bonetti, já havia recebido um pedido dos movimentos sociais da região para que os lotes fossem distribuídos para famílias de sem-terra.
A Comissão Pastoral da Terra deve entrar com uma representação no Ministério Público Federal de Marabá para pedir a retomada do terreno. A CPT também quer que a conduta do Incra seja investigada.
O Incra informa que abriu um procedimento administrativo para retomar o terreno cedido para Antônia Nery

segunda-feira, 4 de março de 2013

No Semiárido do Nordeste, oligarquia política e econômica é mais devastadora que a seca, segundo pesquisador



 
A seca no Semiárido nordestino, que, de tempos em tempos, mobiliza as atenções do País, tem duas faces, segundo o professor José Jonas Duarte da Costa, da Universidade Federal da Paraíba. Uma delas – marcada pela ausência de chuvas – é a face natural. A outra é a socio-histórica, que ele considera “muito mais grave e devastadora”.
O professor assegura, que, ao contrário do que muita gente pensa, a região não tem sido esquecida pelo Estado brasileiro. Volumes consideráveis de dinheiro têm sido sistematicamente enviados para promover o desenvolvimento do Semiárido. O número de siglas de projetos e empresas envolvidos com a questão também só aumenta. Entre elas aparecem DNOCS, Codevasf, CHESF, BNB, Sudene, ProHidro, PAPP, Projeto Sertanejo e outros.
O problema é que o dinheiro não chega a quem mais precisa: é embolsado pela oligarquia econômica e política local. Para piorar o quadro, os projetos públicos escolhidos não são adequados para a região.
Costa é doutor em história econômica pela USP e mestre em economia rural pela Federal da Paraíba. Além de ensinar, atua como pesquisador visitante do Instituto Nacional do Semiárido (Insa). Na entrevista abaixo, ele afirma que a região nordestina poderia ter um elevado grau de desenvolvimento se os projetos fossem adequados e os recursos não fossem embolsados pelas oligarquias.
O Semiárido enfrentou em 2012 um dramático período de estiagem. Em recente artigo sobre a região, o senhor atribuiu os problemas a políticas equivocadas de combate à seca.
Não se trata apenas de equívocos, mas, sobretudo, de projetos e políticas que serviram a interesses menores, de grupos econômicos dominantes, de características oligárquicas ou empresariais. Tais grupos sempre se beneficiaram de modelos economicamente concentradores e socialmente excludentes. Para mim, essa é a questão chave: os projetos e políticas públicas, além de equivocados, obedeceram a interesses privados, minoritários, excludentes.
 
Isso ocorreu mesmo com a Superintendência de Desenvolvimento Econômico do Nordeste, a histórica Sudene?
Sim. A exceção foi a atuação da Sudene durante os governos de Juscelino a Jango. Dirigida por Celso Furtado e um grupo que ele formou, até o golpe de março de 1964, aquela superintendência seguia a lógica de atrair investimentos e democratizar o acesso à terra e à água, por meio da reforma agrária. Depois de Furtado esqueceram a reforma e, consequentemente a democratização da terra e da água.
Os recursos públicos não chegam à população mais necessitada?
Não chegam. Infelizmente. Numa sociedade desigual como a nossa, eles beneficiam os mais poderosos em praticamente todos os projetos.
Isso ocorre atualmente?
Estou falando da realidade de hoje. Na Paraíba, o governo estadual tem feito enorme esforço para garantir o fornecimento de ração aos agricultores familiares, mas os grandes fazendeiros e empresários se apossaram do programa e são eles quem, de fato, têm acesso à ração animal. O mesmo tem acontecido com o programa de distribuição de milho que o governo federal subsidia: só os produtores com melhores condições obtêm acesso ao programa.
O que seria necessário mudar, na sua avaliação?
No plano político seria preciso quebrar a estrutura de poder oligárquico que se alimenta da seca. Por mais paradoxal e triste que seja, ainda é comum assistirmos a políticos profissionais que se beneficiam e tiram proveito eleitoral da situação caótica. Aparecem como defensores dos flagelados e oprimidos. Criam logo uma SOS Seca e tornam-se garotos midiáticos, preparando as bases eleitorais para as próximas eleições, prometendo “vestidos a marias e roçados a joões”, como dizia a música de Gilberto Gil em 1968.
Como romper esse círculo?
Romper essa estrutura política significa eleger outros interlocutores para um diálogo franco de construção de alternativas de convivência com a seca. Não se pode aceitar mais que os políticos locais sejam os intermediários entre os projetos de enfrentamento da questão e a população que espera os chamados benefícios. É necessário criar mecanismos de democracia participativa efetiva, onde o povo organizado participe dos fóruns de decisão e dirija os processos de execução de políticas públicas. Não é fácil, mas é preciso fortalecer as organizações populares, os movimentos sociais, setores da igreja, sindicais.
Essas organizações alternativas também apresentam problemas e dificuldades.
Existem vícios e problemas na execução dos projetos, mas, sem dúvida, de longe, com muito menos casos de corrupção, desvio de conduta e descaminhos de projetos. A experiência da ASA (Articulação do Semiárido) com as construções de cisternas de placas, cisternas calçadão, barragens subterrâneas, etc, é um exemplo de eficiência. No plano mais amplo, é preciso montar uma infraestrutura produtiva em função das condições peculiares da região.
 
O senhor fala em convivência com a seca. Isso é possível?
Cerca de dois terços das terras do planeta estão em regiões de clima árido ou semiárido. E em muitos desses lugares as pessoas vivem bem, muito bem. O nosso semiárido é o que mais tem chuvas no mundo e um dos que apresentam maiores potencialidades. É preciso deixar claro que o Semiárido não é só pobreza, miséria e seca. É uma região com dificuldades e desafios, mas com potencialidades enormes, muitas belezas e riquezas. Conhecemos produtores, em pleno Cariri paraibano, região das mais secas do Brasil, onde não chove há praticamente dois anos, que ainda não sentiram o drama da seca. Na realidade sentiram mais o efeito da dizimação da palma forrageira pela praga da cochonilha do Carmim do que da seca. Esses agricultores aprenderam a viver em zona seca, semiárida, com pouca chuva. Vivem com muita dignidade e altivez.
Como conseguem?
No período das chuvas produziram e armazenaram alimentos para os seus rebanhos – e até agora dispõem de reservas para alguns meses. Também aprenderam a estocar água para utilizar nos períodos de longas estiagens. São produtores de agricultura familiar que não deixam a desejar em produtividade, eficiência e qualidade a nenhum produtor das regiões mais chuvosas do Brasil. Produtores com média de 20 litros de leite por vaca em plena seca. Apenas montaram infraestrutura tecnológica adaptada ao semiárido. Não transplantaram modelos produtivos de outras regiões. Assim como os suíços se preparam para o rigoroso inverno, com nevascas e gelo que matam tudo em suas terras, assim como árabes e judeus se preparam para as adversidades climáticas, os sertanejos sabem se preparar para a vida sob as condições climáticas próprias dessa parte do Brasil.
O senhor fala em potencialidades da região. Elas não são exploradas?
Não. E são muitas. Um exemplo: poderíamos exportar para todo o Brasil energia elétrica a partir da energia solar. Outro exemplo: poderíamos exportar proteína animal, como se vê em outras áreas semiáridas do mundo, e fornecer queijos finos de leite de cabra. Temos cerca de 90% do rebanho caprino nacional, plenamente adaptado ao clima local.
Chama a atenção, no artigo que escreveu, a lista de siglas de programas para a região.
Lembrar essas siglas é quase lembrar a história do Brasil. O IFOCS, que virou DNOCS, atuou na perspectiva de uma solução hidráulica para a seca. Construiu uma infraestrutura de açudes e barragens que deu à região um razoável suporte hídrico. No entanto, desmentindo o paradigma da solução hidráulica, nos anos 80, quando o Semiárido já dispunha de todos os mananciais que dispõe hoje, veio a crise da cotonicultura, que, articulada com a crise econômica dos anos 80 e as secas, provocou o maior fluxo migratório da história. Cerca de 5 milhões de sertanejos deixaram os sertões secos do Brasil.
Esse paradigma hidráulico foi abandonado?
Embora desmoralizado, setores políticos hegemônicos ainda tentam resgatá-lo no Nordeste, certamente para tentar se beneficiar.
E as outra siglas e políticas públicas?
O BNB (Banco do Nordeste do Brasil) tornou-se o maior latifundiário do Nordeste, pois é credor de uma dívida impagável por parte da grande maioria dos proprietários de terra da região. Também tem CHESF, Codevasf e os programas de emergência: Projeto Sertanejo, Reflorestamento com Algaroba e outros. Todos tem sempre o mesmo objetivo: desenvolver o Semiárido. O problema é que todos se baseiam em modelos importados, que não levam em conta as as potencialidades da região.
De que maneira os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, afetam a região?
O Bolsa Família funciona como política compensatória diante da incapacidade do Estado para superar a pobreza, o desemprego e a miséria, características do sistema capitalista, especialmente na sua periferia. Para uma efetiva distribuição de renda seria necessário alterar o modelo que privilegia o lucro exacerbado e o acúmulo de capitais. O atual governo, embora tenha reforçado os programas sociais, não alterou a estrutura espoliativa do trabalho no Brasil. Não mexeu nos privilégios.
Mas o programa não teve impactos?
O Bolsa Família teve e tem impactos importante na redução dos índices de fome e miséria nos sertões semiáridos. Ele também propicia uma circulação monetária que cria uma espiral virtuosa em economias locais, onde predomina a baixa renda. Nos sertões, além de reduzir a miséria, levou ao escasseamento da mão de obra, melhorando os padrões salariais para uma parcela das classes trabalhadoras de rendas baixíssimas. Esse é um impacto perceptível. Por outro lado, gera um processo que pode se voltar contra a própria classe trabalhadora, que tende a acomodar-se. Como vivemos um momento de inflexão das lutas sociais, o Bolsa família que alimenta o trabalhador é o mesmo que o paralisa na luta por sua emancipação, o domestica politicamente, para a reprodução da exploração sobre o seu trabalho.
E do ponto de vista político-eleitoral?
Os programas sociais têm reflexos direto na popularidade do governo. Quem, como eu, viveu a infância e juventude nos sertões nordestinos, não esquece as cenas de fome e desnutrição, inclusive tendo a morte como companheira próxima – algo comum nas famílias dos agricultores pobres. Hoje ainda existe muita fome, miséria, desnutrição, mas não comparáveis ao que havia naqueles tempos. A grande popularidade do governo se explica porque, embora de um lado realize os sonhos dos capitalistas que “nunca antes na história desse país” acumularam tanto, de outro, promete acudir parte dessa população, historicamente desassistida, ainda despolitizada e que, sob essas condições, só poderia reagir agradecendo.