domingo, 26 de fevereiro de 2012

CPT CEARÁ REALIZA SEMINÁRIO INTERNO SOBRE TECNOLOGIAS SOCIAIS APROPRIADAS AO SEMIÁRIDO E REAFIRMA SEU COMPROMISSO COM AS AÇÕES DE CONVIVÊNCIA

CPT  CEARÁ REALIZA SEMINÁRIO INTERNO SOBRE TECNOLOGIAS SOCIAIS APROPRIADAS AO SEMIÁRIDO E REAFIRMA SEU COMPROMISSO COM AS AÇÕES DE CONVIVÊNCIA

                                                                   Foto: Thiago Valentim/CPT CE

No dia 23 de fevereiro de 2012, em Fortaleza, 18 agentes da CPT Ceará realizaram um seminário interno com o objetivo de direcionar um olhar crítico para as estratégias de convivência com o semiárido, a fim de fortalecer sua atuação junto aos camponeses e camponesas.
O seminário possibilitou um debate sobre as ações de convivência realizadas pela CPT Ceará, diretamente ou em parceria, trazendo presente os desafios enfrentados no processo de implementação das mesmas, a situação das famílias e comunidades beneficiárias dos projetos e as perspectivas para o futuro.
Um olhar especial foi direcionado ao Projeto Mandala, desenvolvido pela CPT nos anos de 2004-2005. Com alegria, constatamos que a maioria das mandalas implantadas ainda estão produzindo. Algumas estão desativadas por problemas de infraestrutura, como a dificuldade de transpor a água para o tanque da mandala pela falta de motores mais potentes. Outra dificuldade constatada a foi ausência de acompanhamento, principalmente pela falta de recursos. Porém, a maioria das famílias tem encontrado caminhos, fazendo parcerias, ocupando espaços que possibilitam continuar produzindo, primeiramente para o consumo familiar e, em seguida, para a comercialização do excedente.
As Mandalas são uma referência para a soberania alimentar. Contatamos que, além da melhora na qualidade de vida dos beneficiários diretos e indiretos, pela produção de alimentos de qualidade e a geração de renda, as Mandalas colaboram no fortalecimento dos laços familiares e comunitários, na valorização e autonomia das mulheres e reafirma a identidade camponesa na famílias. Implantadas a partir dos princípios da agroecologia, são responsáveis pela criação de micro-climas, que possibilitam a sobrevivência de diversos seres vivos responsáveis por manter o equilíbrio natural do meio, gerando cuidado com o natureza, uma produção qualificada e a promoção da saúde. Constatamos ainda que as mandalas implantadas pela CPT tem sido referência para outros projetos nas comunidades e para uma educação contextualizada, pois as famílias beneficiárias recebem contantemente a visita de diversos grupos, entre eles de alunos da região, para intercâmbios diversos.
O Seminário reafirmou ainda a necessidade de fortalecer as lutas pelo acesso à Terra e à ´?Água, como elementos necessários para o êxito do processo de convivência com o semiárido.
Avaliando o Seminário como muito positivo, com um debete maduro, a CPT Ceará assumiu alguns compromissos:
* Fazer parcerias com Agentes Comunitários de Saúde e líderes da Pastoral da Criança para difundir e fortalecer os quintais produtivos e outras experiências de convivência nas regiões onde atuam;
* Investir em hortaliças tradicionais;
* Fortalecer e multiplicar as casas de sementes crioulas, valorizando e incentivando também o armazenamento das sementes tradicionais em cada família;
* Realizar estudos bíblicos a partir da ótica camponesa;
* Viabilizar a realização de estudos de aprofundamento do bioma caatinga e do semiárido.

Atenta aos últimos acontecimentos em que o processo de convivência com o semiárido desenvolvido pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) foi ameaçado pela decisão do MDS de romper com a parceria e na insistência do governo e empresas de continuar com a implantação de cisternas de plástico nas comunidades camponesas do semíárido, a CPT Ceará, também membro da ASA, lança carta de compromisso com as alternativas de convivência e expressa sua posição contrária a todo projeto que vise ressuscitar a velha "indústria da seca". 

CARTA DA CPT CE SOBRE AS TECNOLOGIAS DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO
A Comissão Pastoral da Terra do Ceará, reunida no dia 23 de fevereiro de 2012 em Fortaleza, num Seminário sobre as tecnologias sociais de convivência com o Semiárido, vem a público manifestar sua posição diante da necessidade e importância das ações de convivência com este clima.
O semiárido não é somente um clima, mas um povo, com culturas diversas, que busca viver de forma harmoniosa com a natureza. Há, no entanto, problemas históricos que ameaçam a qualidade de vida das populações do semiárido, como a concentração da Terra e das águas, respaldados por políticas que privilegiam as grandes corporações e empresas privadas.
Uma experiência bem sucedida da sociedade civil organizada é a Articulação do Semiárido (ASA), que desenvolve, junto às comunidades camponesas, as ações do P1MC e P1+2 com uma metodologia participativa, integrada com as pessoas e o seu meio e, através dos Fóruns Estaduais e Microrregionais, compromete-se com o debate sobre um projeto sustentável para o semiárido e a implementação de ações que favoreçam a concretização deste projeto.
A tentativa recente do Governo de negar todas estas conquistas nesse processo participativo de convivência, onde o MDS decidiu romper a parceria com a ASA, suscitou forte reação das entidades da ASA, dos beneficiários e parceiros. A ASA, da qual a CPT faz parte, se configura como uma Articulação do Semiárido e não de um Estado ou outro de forma isolada. A grande mobilização ocorrida no dia 20 de dezembro de 2011 em Petrolina – PE, com 15 mil pessoas, reafirmou a importância dessas alternativas e a capacidade de mobilização das entidades que compõem a ASA Brasil, pressionando o Governo Federal / MDS que mantivesse a parceria. Deu certo!
Contudo, um outro projeto ameaça nosso semiárido: a implantação das cisternas de plástico/PVC. Estas cisternas, além de impactos ambientais e para a saúde, custam o dobro das cisternas de placas, comprometendo o processo pedagógico até aqui construído pela ASA. Reafirmamos a importância das alternativas de convivência, mas repudiamos também aquelas que, mascaradas de benefícios, fazem parte de planos de empresas e governos para lucrarem ainda mais em cima das necessidades do povo, sendo uma forma de trazer de volta a lucrativa “indústria da seca”.
A CPT, através do presente documento, reafirma seu compromisso com as lutas em defesa do acesso à Terra e à água de qualidade, onde as populações camponesas possam ter assegurado seu protagonismo, fortalecendo e implementando projetos que gerem soberania e sustentabilidade para as famílias camponesas.

Fortaleza, 23 de fevereiro de 2012
Comissão Pastoral da Terra do Ceará

Viabilidade da agroecologia é pesquisada no semiárido

JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE   Caderno Regional

Sertão dos Inhamuns
Viabilidade da agroecologia é pesquisada no semiárido

Domingo 26.02.2012

Um grupo em Nova Russas CE é retratado na pesquisa, que analisa as possibilidades da avicultura tradicional

Nova Russas. Tendo como objeto de estudo um grupo de avicultura tradicional acompanhado pelo Projeto Dom Hélder Câmara, da comunidade de Irapuá, neste Município, o médico veterinário e pesquisador Felipe Jalfim elabora sua tese de doutorado, a qual segue o mesmo tema de sua dissertação de mestrado, defendida em 2008: "Agroecologia e Agricultura Familiar em tempos de globalização: O Caso dos Sistemas Tradicionais de Criação de aves no Semiárido Brasileiro".

O estudo, vinculado à Universidade de Córdoba, na Espanha - onde Jalfim também concluiu o mestrado -, já tem a primeira metade finalizada e está previsto para ser concluído no início do próximo ano. O médico veterinário pernambucano e mestre em Agroecologia discorre sobre a criação tradicional de aves no contexto globalizado, ao mesmo tempo em que leva para o debate acadêmico e militante, no âmbito da Agricultura Familiar e Agroecologia, elementos teóricos-metodológicos que contribuem para o avanço e desenvolvimento rural sustentável no semiárido brasileiro.

Embora ainda em andamento, o estudo, de acordo com o autor, traz uma análise das limitações e possibilidades da criação de aves realizada pela agricultura familiar e pelo complexo avícola transnacional. Preenche uma lacuna de estudos acadêmicos com respeito à atividade.

"É um tema marginalizado, tanto no meio acadêmico, como em outros. Nunca se olhou para a importância desse trabalho feito especialmente pelas mulheres, na agricultura familiar".

Alimentos

Felipe Jalfim constata que a degradação dos recursos naturais constitui um dos problemas prioritários da região semiárida brasileira, mostrando a dependência da maior parcela da sociedade local e agricultura familiar dessa matriz produtiva.

"A produção de alimentos e outros bens tem como finalidade não só o autossustento, como também a geração de renda, elementos indispensáveis para o bem-estar e reprodução do modo de vida da agricultura familiar na região", salienta Jalfim, na primeira parte de seu estudo.

Segundo o pesquisador, a água, fator limitante no clima devido à sua escassez, gerou maior volume de estudos, conhecimentos e experiências, enquanto que a criação de animais, em especial a atividade avícola, carece "de um maior amadurecimento e melhor explicitação dos conhecimentos existentes", diz.

A questão é, por meio da pesquisa participativa junto a 13 mulheres na localidade distante 15 quilômetros da sede de Nova Russas, que criam tradicionalmente aves, contribuir para que o sistema se torne produtivo, resistente e gerador de renda para as famílias.

Assim, o pesquisador e consultor do Projeto Dom Helder Câmara, órgão apoiador do trabalho, espera provar que, com a utilização de estratégias, o sistema é rentável, tem sustentabilidade, produz alimentos de qualidade e propicia segurança alimentar.

"A atividade tem potencial e, por meio de estratégias elaboradas em conjunto com as próprias criadoras, se torna rentável, aliando-se a isso o resgate de uma cultura que aos poucos está se perdendo no meio rural", defende Felipe Jalfim.

Diálogo

Segundo ele, os técnicos reconhecem o saber da agricultora (criadora) e interagem de forma ampla e multidisciplinar. Esses conceitos são os pressupostos da Agroecologia, ciência nova que trabalha a agricultura de forma sustentável reconhecendo o conhecimento do agricultor.

Dessa forma, não há substituição de saberes. O conhecimento técnico e científico não chega ao meio rural para se sobrepor ao conhecimento tradicional das mulheres que, por gerações a fio, criam aves.

O experimento e a troca de conhecimentos, segundo Jalfim, são a grande proposta da Agroecologia e da pesquisa participativa aplicada na comunidade, junto às famílias que participam do grupo da avicultura, formado e acompanhado desde 2008 pelo Projeto Dom Hélder. "A ideia é que esses conhecimentos se encontrem, dialoguem e gerem novos conhecimentos. Vamos observando a sua forma de criar e testando novas experiências junto com elas", ressalta.

Monitoramento

Em meio ao diálogo de saberes, há o monitoramento das atividades realizadas pelas mulheres na criação avícola. Por meio de um formulário preenchido diariamente por elas, Felipe acompanha a atividade e suas nuances, desde a montagem da estrutura física, postura, ração e milho, reprodução à redução (consumo e predador). Os dados são coletados e levados para uma tabela que realiza a análise. Daí, mensalmente o grupo verifica os dados e toma decisões.

Exemplo simples desse diálogo e da importância do monitoramento foi a decisão tomada pelo grupo sobre a incorporação de cálcio na ração das aves, após as mulheres verificarem um hábito inusitado que as aves passaram a ter de repente - bicar a parede do galinheiro.

Através da suplementação alimentar, as aves abandonaram o hábito. Além disso, os ovos ficaram com a casca mais forte.

Geração de renda

"A produção de alimentos tem como finalidade não só o autossustento, como também a geração de renda"

Felipe Jalfim
Médico veterinário e pesquisador

Grupo de criadoras apresenta avanços

Nova Russas. O grupo de avicultores da comunidade de Irapuá foi criado em 2008 pelo Projeto Dom Hélder Câmara, órgão do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Com acompanhamento técnico do órgão, que atua junto aos criadores no planejamento e execução das atividades, o grupo vem atestando a sustentabilidade e rentabilidade da atividade. Os avicultores produzem para consumo próprio e ainda comercializam o excedente para os moradores da própria comunidade e para as escolas. Vendem mensalmente para escolas cerca de 700 ovos.

"Estamos satisfeitos com o nosso grupo, pois o nosso objetivo definido desde o início era melhorar a nossa própria alimentação, e isso já alcançamos. Além do mais, ainda vendemos o que sobra", diz Maria Salu, uma das 13 mulheres do grupo.

Segundo a supervisão do Projeto Dom Helder, o grupo foi criado levando em conta a aptidão da comunidade, na qual muitas mulheres tradicionalmente já tinham criação de aves, as chamadas "galinhas caipiras". Com o apoio técnico do órgão, que disponibiliza incentivo financeiro a agricultores interessados em participar do grupo, assistência técnica por meio de visitas, monitoramento, consultoria, acompanhamento e informações sobre oportunidades de comercialização, a atividade vem crescendo e mostrando viabilidade.

"Trabalhamos há seis anos na comunidade e a criação de aves é um destaque porque é uma atividade que tem se renovado. O Projeto assiste as mulheres considerando as suas experiências e intervém de forma a contribuir e acrescentar. O diálogo enriquece, quebra paradigmas e possibilita crescimento", ressalta Ana Paula da Silva, supervisora na região dos Inhamuns.

O grupo recebeu investimentos de aproximadamente R$ 11 mil para iniciar a atividade.

Com isso, em cada residência foi construído um aviário padronizado, adquirido suprimentos, rações, vacinas e todo o material necessário para a formação e evolução da criação.

A partir daí, e com as instruções recebidas pelos técnicos e consultoria, novas formas são empregadas na criação. As mulheres, que anteriormente criavam as aves soltas no quintal e no "terreiro", como chamam popularmente, passaram a criar no aviário. Ali, há espaço designados para a reprodução, postura (deitar as aves), pintinhos e frangos. Com isso, poupam tempo e trabalho na busca das aves que corriam para longe, que punham seus ovos em ninhos feitos "no mato", em espantar predadores, entre outras situações comuns na criação tradicional.

Transformação

Além das mudanças na aquisição de renda pelas famílias com a atividade, esses fatores são enumerados como avanços ocorridos por meio da criação do grupo e do trabalho do Projeto na comunidade. "Percebemos transformações evidentes na situação das mulheres, que com a criação acompanhada pelos técnicos passou a ter mais tempo para outras atividades, teve o seu trabalho mais valorizado pela própria família e uma melhoria na sua qualidade de vida", analisa Ana Paula.

Outros grupos também são trabalhados, na comunidade, pelo Projeto Dom Hélder Câmara: apicultura e artesanato. Em ambos, há o acompanhamento da mesma forma que no grupo de avicultura. Na apicultura, nove famílias são beneficiadas e uma Casa do Mel está sendo construída, para ser utilizada pelos produtores da localidade e região. Já o grupo de artesanato é composto por 16 mulheres, que produzem peças em crochê.

Investimento

11 mil reais foram investidos na construção de aviários padronizados nas casas das mulheres que atuam na criação.

700 ovos são vendidos pelo grupo, mensalmente, para escolas, mostrando o potencial de geração de renda da atividade.

SILVÂNIA CLAUDINO
REPÓRTER

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A alternativa agroecológica

Sementes Crioulas Avançam em Alagoas
O agricultor Sebastião Damasceno, de Santana do Ipanema, se transformou num dos símbolos do movimento chamado em Alagoas de “Sementes da Resistência”. Ele participa de praticamente todos os encontros de agricultores familiares, feiras e exposições exibindo uma coleção de sementes crioulas que inclui desde variedades mais comuns de feijão e milho plantadas em Alagoas, até raridades como variedades de algodão e fava que praticamente não são mais cultivadas no Estado. Por onde passa, ele explica que as sementes que carrega, além de adaptadas às condições de clima e solo do Estado, fazem parte das culturas e tradições dos agricultores alagoanos.
Mas engana-se quem pensa que Damasceno participa de um movimento “romântico” ou saudosista. Ao contrário. Os produtores querem na verdade é melhorar de vida e de renda com a seleção e plantio das próprias sementes. E estão conseguindo avanços importantes. Este ano, pela primeira vez na história, os gastos públicos com a aquisição de sementes crioulas vão superar os gastos com a compra de sementes comerciais.
A Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário prevê gastos da ordem de R$ 6,7 milhões para o programa de aquisição de sementes. A expectativa é que os recurso sejam suficientes para a aquisição, através de pregão eletrônico, de cerca de mil toneladas de sementes selecionadas de milho, feijão, sorgo e mamona. “Além dessas sementes devemos contar com o reforço da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento”, explicou recentemente a reportagem do Gazeta Rural o secretário Jorge Dantas, da Agricultura.
E o reforço veio. E veio além do esperado, até mesmo pelos mais otimistas dos agricultores. O superintendente da Conab em Alagoas, Eliseu Rego, antecipou ao caderno Gazeta Rural que este ano a companhia tem um orçamento já assegurado de R$ 6 milhões para a aquisição de sementes crioulas em Alagoas. “Serão cerca de 1,5 mil toneladas de sementes de milho e feijão”, assegura.
Nos últimos dois anos, a Conab vem reforçando o programa de distribuição de sementes do Estado. Em 2011 o reforço foi de cerca de 300 toneladas de feijão trazidas de outros Estados. Esse ano além de um volume maior, a diferença é que as sementes serão compradas e distribuídas em Alagoas, através de parcerias com a Seagri e com organizações de agricultores familiares. “Temos cinco cooperativas cadastradas para vender as sementes”, explica Eliseu.
Uma dessas organizações que serão contempladas com o programa da Conab em Alagoas é a Cooperativa dos Bancos Comunitários de Sementes, Coopabacs, sediada em Delmiro Gouveia. Mardônio Alves da Graça que tomou conhecimento da novidade pela reportagem do Gazeta Rural, adiantou outra importante novidade: duas organizações de Alagoas acabam de se credenciar no Ministério do Desenvolvimento Social para vender sementes.
O governo federal avançou nessa questão e o MDS abriu pela primeira vez uma chamada pública no valor de R$ 10 milhões para a aquisição de sementes a agricultores familiares. No país inteiro foram credenciadas sete organizações. Destas, duas são de Alagoas, a própria Coopabacs e a Agra (Associação dos Agricultores Agroecológicos de Igaci)”, explica o presidente da Coopabacs, Mardônio Alves da Graça.
O projeto no MDS, acredita Mardônio, contempla a aquisição de 192 mil kg de sementes de feijão, mais de 60 mil kg de sementes de milho produzidas por pouco mais de 200 agricultores. “Esse projeto que tem um custo de R$ 870 mil vai beneficiar mais oito mil famílias de agricultores familiares em Alagoas”, adianta.
Para Mardônio o reconhecimento do governo federal, ao destinar verbas para a aquisição das sementes crioulas, reforça o movimento dos bancos comunitários de sementes no Estado. Agora ele defende que o governo estadual faça o mesmo. “Temos uma boa parceria com o governo, que hoje funciona na capacitação dos agricultores e na formação dos bancos comunitários de sementes e ferramentas. Mas defendemos que o Estado avance e também passe a adquirir sementes produzidas por agricultores familiares”, enfatiza.
O presidente da Coopabacs sugere que o governo de Alagoas adote no programa de sementes a mesma política federal para a compra de produtos da merenda escolar. “Poderíamos estabelecer, a partir de 2013, uma vez que esse ano não é mais possível, que no mínimo 30% dos recursos do programa de sementes do Estado sejam destinados a aquisições de agricultores familiares do próprio Estado. Com isso, vamos garantir o reforço no programa e uma maior circulação de riquezas no nosso Estado”, destaca. (...)
Fonte: Gazeta de Alagoas, 03/02/2012.


LIMITAÇÃO FUNDIÁRIA

Índios Jenipapo-Kanindé aguardam sanção da Presidência da República para terem direito à terra em Aquiraz
O ano de 2012 promete ser pródigo na definição de áreas indígenas, especialmente para três agrupamentos

Aquiraz O "pessoal da Encantada" está prestes a ter um direito já legitimado em conquista definitiva. Está se encerrando o prazo de contestação da delimitação de terras indígenas em Aquiraz, em impasse com grupos empresariais. Após vários estudos, 20 anos de demandas judiciais e uma determinação do Ministério da Justiça, pode acontecer, nas próximas semanas, a assinatura da presidente Dilma Roussef dando o devido direito aos índios Jenipapo-Kanindé.

Neste mês, foram publicados os relatórios de identificação e delimitação nas terras dos índios Tremembé de Queimadas, em Acaraú, e de Barra do Mundaú, em Itapipoca. Das várias etnias indígenas reconhecidas no Ceará, apenas os Tremembé do Córrego João Pereira, em Acaraú, tiveram as terras homologadas até hoje. Mas 2012 pode ser o ano da reconquista indígena.

Os trâmites que haviam de ser já foram. O ultimo deles é o fim do prazo de 90 dias para o grupo Ypióca recorrer da decisão do Ministério da Justiça sobre a delimitação das terras indígenas em Aquiraz. Os índios venceram em todas as instâncias e estão a um passo de selarem a conquista, quando a presidente Dilma Roussef sancionar a homologação de terras.

A Portaria nº 184 do Ministério da Justiça no Diário Oficial da União (DOU), de 24 de fevereiro de 2011, declarou o que esperavam os índios desde sempre, mais insistentemente a partir de 1980: "de posse permanente do grupo indígena Jenipapo-Kanindé a Terra Indígena ´Lagoa Encantada´ com superfície aproximada de 1.731 hectares e perímetro também aproximado de 20 quilômetros". E mais: "julgando improcedentes as contestações opostas à identificação e delimitação da terra indígena".

Os índios, como outras etnias, passam por quatro principais processos até terem as suas terras garantidas de forma incontestável: a identificação (com auxílio de perícia antropológica se identifica um povo como pertencente à etnia), demarcação e delimitação das terras (caso de Aquiraz), homologação pela Presidência da República e posterior desintrusão. Esta última etapa significa a retirada de agentes ou grupos que tentam se apropriar das terras. No caso de Aquiraz, a empresa Ypióca terá de sair de áreas que estejam dentro do perímetro pertencente aos Jenipapo-Kanindé. Isso inclui a proibição da retirada, pela empresa, de água da Lagoa Encantada.

Tem sido com muita dificuldade o processo de reconhecimento e afirmação das identidades indígenas. Mas, aos poucos, elas têm vencido os processos até a legitimação definitiva. É uma fila de quase 20 etnias espalhadas no Ceará que tem na primeira posição os índios tremembé do Córrego João Pereira, em Itapipoca. Depois, seguem os Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz. Em um patamar imediatamente inferior, mas já em processo de consolidação, estão os casos dos Tremembé de Queimadas (Acaraú) e da Barra do Mundaú, em Itapipoca. Neste último, o grande imbróglio judicial envolve a instalação de um grande empreendimento hoteleiro do grupo Nova Atlântida, que se estenderia em aproximadamente 13 quilômetros de litoral em Itapipoca.

Direito natural


A estratégia dos posseiros e grupos empresariais que brigam na Justiça pelas terras indígenas resume-se basicamente em não reconhecer determinados povos como índios. Se não forem índios, não têm direito natural da terra. Mas os estudos antropológicos tem sido tão fundamentados que as cartas judiciais já respondem em favor dos índios. É o caso do despacho 678, publicado no Diário Oficial da União, que traz a fundamentação histórica em que se conceberam aqueles povos indígenas:

"As primeiras referências aos Tremembé datam do século XVI. Os jesuítas começaram a estabelecer aldeamentos em território cearense no século XVII, paralelamente ao processo de concessão de sesmarias na zona costeira. O projeto colonial português promovia uma política que categorizava os povos indígenas em dois polos, os aliados e os inimigos, derivando disso as justificativas para o emprego da força física(...) Subjugados, os povos indígenas criaram, em 1712, a Confederação Indígena, a fim de negociar a paz com o colonizador. Porém, no ano seguinte, diante da negativa dos portugueses em cumprir os acordos, os ´Tapuia´ atacaram Aquiraz, sede econômica da capitania, fato que motivou o envio de outras expedições militares para a região, as quais desbarataram a resistência indígena".



FIQUE POR DENTRO

Concentrações indígenas no Estado

A Coordenação dos Povos Indígenas do Ceará (Copice) tem registradas 11 concentrações de etnias indígenas no Estado: Tapeba (Caucaia), Tremembé (Acaraú, Itarema e Itapipoca), Pitaguary (Maracanaú e Pacatuba), Jenipapo-Kanindé (Aquiraz), Kanindé (Canindé e Aratuba), Potiguara (Tamboril, Crateús, Monsenhor Tabosa e Novo Oriente), Tabajara (Monsenhor Tabosa, Crateús, Tamboril, Poranga e Quiteranópolis), Kalabaça (Crateús e Poranga), Kariri (Crateús), Anacé (São Gonçalo do Amarante e Caucaia), Gavião (Monsenhor Tabosa) e Tubiba-Tapuia (Monsenhor Tabosa). O número pode subir com processos de auto-reconhecimentos.

MELQUÍADES JÚNIOR
REPÓRTER

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Faleceu Dom Ladislau Biernaski,

Faleceu Dom Ladislau Biernaski,

Bisbo de São José dos Pinhais- Parana e presidente da CPT.

Faleceu hoje pela manha,13/02/2012, Dom Ladislau Biernaski Bispo de São José dos Pinhais, Parana.

Dom Ladislau foi durante muitso anos bispo auxiliar de Curitiba, e em 2006 foi nomeado o primeiro bispo da recem formada Diocese de Sao Jose dos pianhais, na regiao metropolitana de curitiba.
 
Dom  Ladislau, sempre foi um animador das pastorais sociais, atuante na Comissão pastoral da Terra, foi ekeito sue presidente nacional em 2009.
 
Mais do que cargos em funções,  Dom Ladislau  era uma pessoa muito sábia, humilde e simples que gostava de conviver com os pobres e em especial com os camponeses.
 
Sempre apoiou a reforma agraria e o MST no Parana e em todo Brasil.
 
Nos deixa aos 73 anos de uma vida comprometida com a verdade e a justiça.  Um bispo filho de camponeses migrantes poloneses, que se se preocupava com a soberania alimentar, com a agroecologia.   Era um semeador de idéias e de exemplos de vida , a serviço dos camponeses.
 
Grande Dom Ladislau, foi um verdadeiro pastor!
 
Secretaria nacional do
MST

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

QUEM SOMOS

I.              O que é a Pastoral Social

A Pastoral Social é expressão da caridade e da solicitude da Igreja com as situações nas quais a vida está ameaçada. Expressão que renova, a cada dia, a lição da Gaudium Et Spes: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles e aquelas que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos e discípulas de Cristo”. Os diferentes serviços das Pastorais Sociais colocam-se na dinâmica do seguimento de Jesus, para que nele os marginalizados,
os excluídos - pobres, mulheres, crianças e adolescentes, sem terra, sem casa, os considerados “insignificantes” para o sistema, camponeses, indígenas, afrodescendentes, povos tradicionais, migrantes, itinerantes... Tenham vida e a tenham num ambiente preservado. Diante de um mundo marcado por profundas desigualdades sociais, a Igreja, segundo sua vocação própria, é chamada a seguir a Jesus, no compromisso de possibilitar que “todos tenham vida e a tenham em abundância”. É por este compromisso que a Igreja se faz solidária para com todas as pessoas que sofrem. Neste sentido, a Pastoral Social atualiza, em novos contextos, a solicitude de toda a Igreja para com as questões sociais, concretizando, assim, sua opção preferencial pelos empobrecidos e marginalizados. Quando afirmamos que a Pastoral Social faz opção pelos pobres e marginalizados, precisamos ter clareza de qual pobreza e de qual marginalização estamos falando. Não pode haver dúvidas. Falamos de pessoas que têm rosto, como insistem os  bispos latino-americanos e caribenhos em Medellín, Puebla e Aparecida, pessoas que vivem na pobreza real,
material, em condição “desumana”, que Medellín qualificou como “antievangélica”
e que Puebla retomou, pedindo uma opção preferencial. Este é um desafio à consciência humana e cristã.
A Pastoral Social é uma pastoral de conflito, porque atua no meio do conflito e com aqueles (as) que vivem no conflito. Optar pela vida e contra a morte provoca conflitos, é preciso assumi-los como oportunidades de transformação. Optar pelo Reino é optar pelas causas do Reino, causas que requerem uma militância profética. Como cristãos, não podemos nos omitir! Esta militância exige uma espiritualidade e uma mística capazes  de sustentar a perseverança na caminhada em busca da libertação. A vida de Jesus está pautada na lógica do amor  gratuito. Ele quer restaurar a vida das pessoas que estão condicionadas por estruturas de morte. Nas Pastorais Sociais, o conflito não pode ser negado. Ele deve ser vivido evangelicamente, sem posturas neutras, agressivas e violentas como também sem posturas passivas, triunfalistas, em que a paz literalmente se resume à ausência de “guerras”. As relações devem ser permeadas pelo amor, que é fruto da misericórdia e da justiça, da verdade e da paz.

II.            A identidade da Pastoral Social

A identidade da Pastoral Social da Igreja Católica no Brasil é resultado de uma caminhada de longos anos, durante os quais foi criando um “rosto” próprio, fruto das muitas ações que aqui e ali se articulavam para firmar o compromisso social das comunidades cristãs. Mesmo que, em situações anteriores, a Igreja tenha sido enfática ao recordar seu compromisso social, as primeiras iniciativas denominadas “Pastorais Sociais” somente começaram a se organizar a partir dos anos 70, como já referido no capítulo anterior. O ambiente sócio político e eclesial de seu nascimento marcou o perfil das primeiras pastorais. Tratava-se de um contexto de resistência e de luta para defender os direitos humanos, a vida e a liberdade. Se o contexto sociopolítico era negativo, a situação eclesial era, contudo, favorável. Vale lembrar a abertura da Igreja, o diálogo com a sociedade e a vocação e o protagonismo dos cristãos leigos e leigas promovidos pelo Concílio Vaticano II (1962-1965). Na América Latina, o encontro dos bispos em Medellín (1968) marcou uma profunda mudança da Igreja, a partir da opção em favor dos pobres, dos Direitos.
Humanos e da justiça. As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) foram o berço de onde surgiram muitas lideranças das Pastorais Sociais, dos movimentos sociais, dos sindicatos e dos partidos políticos democráticos. Muitos leigos e leigas, religiosos e religiosas, presbíteros e bispos  assumiram um posicionamento profético que colocou em prática as
opções pastorais de Medellín e Puebla, impulsionando e apoiando a Pastoral Social. Muitos pagaram com a própria vida essa busca de fidelidade a Jesus e ao povo. Todos lembramos   de pessoas cujas vidas
foram uma história de solidariedade e amor para com os humildes e empobrecidos. Em muitas paróquias, brotaram e consolidaram-se as CEBs e as Pastorais Sociais, nas quais a militância de muitos leigos  e leigas encontrou, no serviço da caridade, a expressão madura de sua fé e a fidelidade a seu batismo. A teologia da libertação encontrou, neste contexto de vida cristã, terreno fértil para a sua reflexão sobre a Igreja dos pobres e sobre um novo jeito de ser Igreja ou, como costuma dizer Dom Pedro Casaldáliga, “o jeito normal de a Igreja ser”.

III.           Missão da Pastoral Social

Jesus é o Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas. Ele é a porta por onde as ovelhas podem passar. Nele elas encontram alimento em abundância; nele elas têm liberdade. “Para que tenham vida”. Este versículo sintetiza a missão de Jesus, a razão de ser de sua opção e de sua prática. Em defesa da vida, Jesus denuncia aqueles que ameaçam. o rebanho: ladrões e mercenários. Em defesa da vida, Jesus oferece um lugar aos que não têm lugar para viver, acolhe os que não foram acolhidos, recebe como irmãos e irmãs aqueles que sofrem até mesmo a exclusão religiosa. Numa sociedade em que muitos são os excluídos e marginalizados, sem condições de vida digna, fazer Pastoral Social significa assumir com Jesus a mesma luta em defesa da vida, participar do mesmo destino, sofrer com ele as mesmas tentações, vivenciar a mesma perseguição  e saber que isto pode levar até à morte. A missão da Pastoral Social coloca-se nas fronteiras da evangelização no mundo dos pobres e marginalizados. Hoje, como no tempo de Jesus, as multidões pobres estão “cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor”. Dentre os sujeitos da ação de Jesus estão os excluídos, porque considerados: imorais (prostitutas e pecadores) impuros (leprosos e possessos) marginalizados (mulheres, crianças e doentes) pobres (povo da terra, sem poder) Jesus anuncia o Reino a partir dos excluídos.

IV.          As Pastorais Sociais na CNBB

Integradas à Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, as Pastorais Sociais têm como objetivo ser presença de serviço na sociedade, desenvolvendo ali atividades concretas que viabilizem a transformação de situações específicas junto ao mundo do trabalho, nas situações nas quais se encontram povos de rua, crianças em situação de risco, sem terra, sem teto, mulheres marginalizadas, comunidades negras e no campo da mobilidade humana, junto aos presidiários, aos pescadores, aos trabalhadores rurais, aos sem moradia... As Pastorais Sociais vivem,
portanto, um desafio diante das exigências de responder às necessidades humanas em nome do Evangelho. Em função da capilaridade das Pastorais Sociais, cabe à Comissão da CNBB, em âmbito nacional, ser instrumento de animação e articulação destes diferentes serviços, compreendendo que as ações acontecem em diferentes ambientes e situações, nos quais se torna indispensável o discernimento urgente dos agentes.

 O diálogo permanente e franco pode levar a identificar, em conjunto, as causas.
da exclusão social em âmbito nacional, planejar e animar ações articuladas e de consenso que denunciem profeticamente tudo o que produz injustiça, desigualdade, miséria e que anunciem que outro Brasil é possível e está sendo construído por muitas iniciativas eclesiais e populares. A Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade da Justiça e da Paz é constituída por nove Organismos e dez Pastorais Sociais Específicas. Compõem também a Comissão, o Setor das Pastorais da
Mobilidade Humana e a Comissão do Mutirão pela Superação da Miséria e da Fome. Organismos: Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), Caritas Brasileira, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (IBRADES), Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (CERIS), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral da Criança, Pastoral do Menor, Pastoral da Sobriedade e Pastoral da Pessoa Idosa. Pastorais Sociais Específicas: Pastoral Operária (PO), Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP), Pastoral dos Nômades, Pastoral Carcerária, Pastoral da Saúde, Pastoral da Mulher Marginalizada (PMM), Pastoral do
Povo da Rua, Pastoral Afro-Brasileira e Pastoral da AIDS. Setor das Pastorais da Mobilidade Humana: Apostolado do Mar, Pastoral Rodoviária/estrada, Pastoral dos Migrantes, Pastoral dos Refugiados, Pastoral dos Nômades, Pastoral dos Pescadores e Pastoral do Turismo. Mutirão pela Superação da Miséria e da Fome: um secretariado
Para a dinamização do mutirão.