segunda-feira, 28 de outubro de 2013

CPT REALIZA ENCONTRO NACIONAL DE FORMAÇÃO PARA DISCUTIR PASTORALIDADE



Reunidos em Luziânia, Goiás, no Centro de Formação Vicente Cañas, entre os dias 23 e 26 de outubro, cerca de 60 agentes da CPT de todo o país discutiram a Pastoralidade no dia a dia de trabalho da CPT. Ao final do Encontro, eles aprovaram a Carta Final em que reafirmam, entre outras coisas, "manter fidelidade ao projeto de Jesus e, por isso, manter a fidelidade aos indígenas, quilombolas e todas as categorias de camponeses que são os 'últimos e os penúltimos' na escala social, decretados à morte pelo poder dominante". Confira o documento na íntegra:

Aos irmãos e irmãs da CPT, das igrejas e das pastorais

Estivemos reunidos, em Luziânia, no Centro de Formação Vicente Cañas, do CIMI, de 23 a 26 de outubro de 2013, 55 agentes de pastoral de todos os regionais da CPT, para aprofundar em quatro dias de estudo, convivência fraterna, com fortes momentos de oração  e contemplação, a  dimensão pastoral da CPT, que nos é irrenunciável.

Nossa reflexão  partiu da escuta da pastoralidade que é vivida e  desenvolvida de formas diferentes e por pessoas diferentes nos meios populares, quase sempre marginalizados, discriminados e oprimidos. São pessoas que assumem o pastoreio dos seus semelhantes no cuidado da vida e das feridas dos que sofrem. Nossa reflexão buscou e encontrou na Bíblia a fundamentação do ser pastor. E descobrimos que esse pastorear está carregado de ambigüidades, pois os que dominam e governam o povo se fazem chamar de pastores. Os profetas se levantam contra eles, pois em vez de se preocupar com o povo “apascentam a si mesmos” (Ez 34,2)

Nosso modelo de pastor é Jesus que deixa 99 ovelhas no deserto e vai em busca da que se perdeu e que disse que o Bom Pastor é aquele dá a vida por suas ovelhas. (Jo 10,11)

No nosso trabalho, enquanto CPT, sentimos diariamente os clamores das comunidades indígenas, quilombolas, camponesas em geral, pois sua relação prazerosa com a terra, a água e as florestas, que para elas é espaço de vida, cada dia se torna mais  inviável no modelo capitalista que domina nosso pais que tudo quer transformar em mercadoria.

Hoje a situação das comunidades é mais grave do que quando a CPT foi criada há quase 40 anos. Vivem ameaçadas de perder a terra e o território onde nasceram e os poucos direitos que arduamente conquistaram. Sofrem ataques diários dos que se julgam “donos” da terra e se encastelam nos âmbitos dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Cada dia mais seus sonhos de ter garantido seu espaço de vida é interrompido e negado.

É nesta contradição que a CPT desenvolve sua ação pastoral de acordo com o que vemos nos Evangelhos. Todo o dia temos que nos confrontar com as forças contrárias (ver Jo 10,1.8.12) dos que não  querem o pão repartido e o povo organizado, como Jesus nos aponta quando mandou seus discípulos organizarem o povo em grupos para que o pão pudesse saciar a todos. (Mc 6,39-40). Nas Igrejas, muitos ainda não entendem que nossa ação é verdadeiramente pastoral, porque falamos de comunidades que se preocupam com a partilha do pão e a organização do povo como fez Jesus. Mas, ao mesmo tempo nunca nos faltou o apoio de outros que se mostram solidários com as causas que defendemos e oferecem  seu apoio efetivo e concreto.

Concluímos nossa reflexão com a afirmação de algumas opções irrenunciáveis da nossa identidade e prática pastorais que o Espírito suscitou em nossas igrejas, quando se constituiu a CPT. Partilhamos com vocês estas opções, como compromisso e apelo para a continuidade de nossa missão:

Não podemos nos vender, nem nos render e nos deixar cooptar pelo poder, a ideologia e as seduções do capital. Não podemos deixar de alimentar a mística e a espiritualidade que funde o humano e o divino.

Não podemos substituir o povo, queimar processos, coibir autonomias, colocar obstáculos ao protagonismo popular. Não podemos nos apresentar como iluminados e com monopólio da verdade.

Por outro lado reafirmamos que devemos:

Manter fidelidade ao projeto de Jesus e, por isso, manter a fidelidade aos indígenas, quilombolas e todas as categorias de camponeses que são os “últimos e os penúltimos” na escala social, decretados à morte pelo poder dominante. Partilhar suas lutas e conquistas e a memória de seus mártires.

Denunciar as injustiças e a violência contra os povos do campo, da água e das florestas e anunciar-lhes o apoio para a vida nova que brota da sua luta e organização.
Acreditar no protagonismo dos pequenos e pobres.

Desenvolver a acolhida, a escuta e o diálogo com a diversidade de expressões religiosas e culturais.

Construir comunhão através da colegialidade nas decisões e fazendo circular o poder.

Garantir um processo permanente de formação, desenvolvendo também a capacidade de registro e sistematização das experiências.

Num tempo em  que  o  capital investe pesadamente na manipulação de uma religião só de louvor para silenciar  o profeta, temos que afirmar a nossa pastoral de maneira orgânica, criando espaços de fé, mística, reencantamento e festa que nos alimentam e  estimulam e não nos deixam jamais perder a esperança.

                                  Luziânia, 26 de outubro 2013
            Os participantes do Encontro Nacional de Formação

CISTERNA DE PLASTICO DERRETE NO SOL DOSERTÃO




Cisterna de plástico derrete no sol do sertão, esquenta e solta substâncias tóxicas na água, custa muito mais caro que a cisterna de cimento e não gera a autonomia das comunidades para produzir renda gerindo a própria provisão de água... cisterna de plástico só serve pra uma coisa: garantir lucros vultosos para as transnacionais que as fabricam... a resposta do sertanejo à essa política descarada é mostrar como é fácil fazer picadinho dessa "coisa descartável" com uns simples golpes de facão.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Papa Francisco afasta 'bispo do luxo' de diocese da Alemanha


O papa Francisco ordenou que o bispo Franz-Peter Tebartz-van Elst se afaste momentaneamente da diocese de Limburgo, no oeste da Alemanha, para apurar as denúncias em torno de sua gestão, informou nesta quarta-feira o Vaticano.
Conhecido como 'bispo do luxo', Tebartz-van Elst, de 53 anos, teria gasto cerca de 31 milhões de euros (mais de R$ 90 milhões) na construção de sua residência.
Em um comunicado divulgado hoje pelo escritório de imprensa do Vaticano, a Santa Sé explicou que o papa foi informado 'amplamente e objetivamente da situação na diocese de Limburgo, onde se criou uma situação na qual o bispo Franz-Peter Tebartz-van Elst não pode exercitar seu ministério episcopal no atual momento'.
A nota acrescenta que uma comissão foi criada para realizar 'um profundo exame sobre a construção da sede episcopal' e que, até a conclusão desta investigação, o recém-nomeado vigário-geral de Limburgo, o reverendo Wolfgang Roesch, administrará a diocese.
No início desta semana, no Vaticano, o papa Francisco chegou a receber pessoalmente o bispo de Limburgo, que já estava há vários dias em Roma para poder falar com o pontífice e explicar sua versão dos fatos.
O escândalo em questão veio à tona depois que a imprensa alemã denunciou o luxuoso estilo de vida do prelado, além das obras de sua nova residência episcopal, que, frente aos 5,5 milhões de euros anunciados inicialmente, poderiam superar 40 milhões de euros.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Para papa Francisco, é preciso mudar estilo de vida para acabar com a fome no mundo


A fome e a desnutrição nunca podem ser consideradas como 
um fato normal que se deve acostumar como se fosse parte do sistema. Algo tem que mudar em nós mesmos,  em nossa mente, em nossas sociedades”, escreveu o papa Francisco em uma mensagem enviada ao diretor da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), José Graziano de Silva, por ocasião do Dia Mundial da Alimentação, celebrado hoje, 16 de outubro, com o tema “Sistemas alimentares sustentáveis para a segurança alimentar e nutricional”.
Segundo o papa, “em um momento em que a globalização permite conhecer as situações de necessidade no mundo e multiplicar os intercâmbios e as relações, parece crescer a tendência ao individualismo e ao isolamento, o que leva a certa atitude de indiferença, tanto no âmbito pessoal, das instituições e dos estados, com relação a quem morre de fome ou sofre desnutrição, como se fosse um fato inelutável”.
Para Francisco, um passo importante é acabar com as barreiras do individualismo e do isolamento, da escravidão do lucro a todo custo, não somente na dinâmica das relações humanas, como também na dinâmica econômica e financeira global. 
“É necessário, hoje mais do que nunca, educar-nos na solidariedade, redescobrir o valor e o significado desta palavra tão incômoda e muito freqüentemente deixada de lado, e fazer que se converta em atitude nas decisões políticas, econômicas e financeiras, nas relações entre as pessoas, povos e nações”, disse o pontífice.
Francisco acrescenta que a sociedade está longe de um mundo no qual todos possam viver com dignidade e que é preciso mudar o estilo de vida, incluindo a alimentação, que em tantas áreas do planeta é marcada pelo consumismo e desperdício de alimentos. De acordo com o papa, o fim de tais comportamentos reduziria “drasticamente o número de pessoas com fome”.
  

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Francisco diz que Igreja está formada por pecadores, entre eles, papas


O papa Francisco disse nesta quarta-feira que a Igreja, que é santa, não rejeita os pecadores, entre os quais há homens e mulheres, assim como também cardeais e pontífices.
"Cristo amou a Igreja e deu sua vida por ela, para fazê-la santa", explicou Francisco perante os milhares de fiéis que vão à audiência das quarta-feira.
O papa se referiu às dúvidas que surgem quando se pensa nas "dificuldades, problemas e momentos obscuros" que a Igreja atravessou ao longo dos séculos.
Perante perguntas sobre "Como pode ser santa uma Igreja feita de seres humanos, de pecadores? Homens pecadores, mulheres pecadoras, sacerdotes pecadores, freiras pecadoras, bispos pecadores, cardeais pecadores, papas pecadores Como pode ser santa uma Igreja assim?", Francisco respondeu que é santa porque "procede de Deus".
O pontífice argentino rejeitou a postura daqueles que ao longo da história afirmaram que "a Igreja é só a Igreja dos puros, daqueles que são totalmente coerentes, e que as outras pessoas devem ser afastadas".
"Isto não é verdade! Isto é uma heresia. A Igreja é santa e não rejeita os pecadores. Não rejeita a nós. Não rejeita porque chama a todos: acolhe, está aberta também aos mais distantes. Chama todo o mundo para se envolver pela misericórdia, pela ternura e a generosidade e o perdão do pai", afirmou.
Francisco convidou os presentes a se deixarem "contagiar pela santidade de Deus", lembrando que esta não consiste em fazer "coisas extraordinárias", mas em deixar Deus atuar e ajudar aos outros.



terça-feira, 1 de outubro de 2013

PAPA FRANCISCO DIZ QUE A CORTE É A LEPRA DO PAPADO



“Os piores males que o mundo enfrenta hoje são o desemprego juvenil e a solidão dos idosos”, diz Francisco numa entrevista ao jornal “La Repubblica”. Papa fala ainda da sua visão para a cúria romana e da relação entre a Igreja e a política.
O Papa Francisco tece duras críticas ao Vaticano e aos aspectos materiais que o rodeiam, considerando que existe uma cultura de “corte” a que chama uma “lepra”. 

“Os chefes da Igreja têm sido freqüentemente narcisistas, lisonjeados e emocionados pelos seus cortesãos. A corte é a lepra do papado”, afirmou Francisco numa entrevista ao jornal italiano “La República”.

O Papa esclarece que esta corte não se confunde com a cúria romana, mas diz que também esta deve deixar de estar tão centrada em aspectos temporais. 

"Há cortesãos na cúria, mas a cúria em si é outra coisa”, diz, apontando contudo que actualmente ela tem um defeito: “é centrada no Vaticano. Vê e olha pelos interesses do Vaticano que são ainda, na maior parte, temporais. Esta visão centrada no Vaticano negligencia o mundo à nossa volta. Não partilho desta visão e farei tudo o que estiver ao meu alcance para a alterar. A Igreja é, ou devia voltar a ser, uma comunidade do povo de Deus e os padres, pastores e bispos, que têm o cuidado das almas, estão ao serviço do povo de Deus.” 


A entrevista, concedida ao jornalista assumidamente ateu Eugenio Scalfari, é publicada no dia em que o Papa se encontra pela primeira vez com um comissão de oito cardeais nomeados para o ajudar precisamente a reformar a cúria romana. Para Francisco esta reforma não passa de um cumprimento do Concílio Vaticano II.

"Temos de devolver a esperança aos jovens, ajudar os idosos, sermos abertos para o futuro, espalhar o amor. Sermos pobres entre os pobres. Temos de incluír os excluídos e pregar a paz. O Vaticano II, inspirado por Paulo VI e João [XXIII], decidiu olhar para o futuro com um espírito moderno e abrir-se à cultura moderna. Os padres conciliares sabiam que a abertura à cultura moderna significava ecumenismo e diálogo com não-crentes. Mas depois fez-se pouco nesse sentido. Eu tenho a humildade e a ambição de fazer algo."


No seguimento de outra entrevista, publicada em Setembro, na qual o Papa diz que a Igreja não pode falar exclusivamente de alguns temas polêmicos, Francisco confirma a idéia de que o catolicismo é mais do que uma série de regras e normas - trata-se, sobretudo, de uma relação com uma pessoa: Jesus Cristo. 


“O proselitismo é um disparate. Não faz sentido. Precisamos de nos conhecer, ouvir-nos e aumentar o nosso conhecimento sobre o mundo que nos rodeia”, explica. “O mundo é cruzado por estradas que se aproximam e se separam, mas o importante é que nos conduzam em direcção ao Bem”, considera. 


“Toda a gente tem a sua própria ideia do bem e do mal e deve optar por seguir o bem e combater o mal na forma como os concebe. Isso seria o suficiente para tornar o mundo um sítio melhor”, diz ainda. 

Desemprego e solidão 

Questionado sobre o estado actual do mundo, Francisco é claro sobre as grandes questões que enfrentam actualmente a Igreja: “Os piores males que o mundo enfrenta hoje são o desemprego juvenil e a solidão dos idosos”. 

O entrevistador contrapõe que estas são essencialmente questões políticas e sociais, que devem preocupar os Estados e os sindicatos. “Tens razão”, responde o Papa, “mas também dizem respeito à Igreja. De facto, particularmente à Igreja, porque esta situação não afecta apenas os corpos, mas também as almas. A Igreja deve sentir-se responsável tanto pelo corpo como pela alma”. 


Francisco insiste que a Igreja não se deve meter em política, mas deixa críticas ao liberalismo desregrado que, considera, “apenas torna os fortes mais fortes e os fracos mais fracos e os excluídos mais excluídos. Precisamos de muita liberdade, nenhuma discriminação, nenhuma demagogia e muito amor. Precisamos de regras de conduta e, se necessário, intervenção directa do Estado para corrigir as desigualdades mais intoleráveis”. 



Ao longo da entrevista, o Papa explica que os seus dois santos de referência são Francisco, por razões que já deu a conhecer e que levaram à escolha do seu nome quando foi eleito Papa, e Santo Agostinho. 

Mais à frente, depois de ter perguntado a Scalfari qual é a sua visão do mundo, enquanto não crente, responde com a sua: “Eu acredito em Deus. Não num Deus católico, não existe um Deus católico, mas existe Deus e acredito que Jesus Cristo é a sua encarnação. Jesus é o meu mestre e o meu pastor, mas Deus, o Pai, Abba, é a luz e o Criador. Este é o meu Ser”.