Chamou a atenção o
aumento do confronto pela água
14/04/2015
Por Rafael
Tatemoto
da Redação
da Redação
Os
casos de violência no campo aumentaram no último ano, segundo o relatório
“Conflitos no Campo no Brasil 2014” da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
O levantamento foi lançado na segunda-feira (12) na sede da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília.
De
acordo com os dados coletados pela CPT, o número de homicídios
relacionados a conflitos no campo aumentou 6%, de 34 em 2013 para 36 em 2014. O
crescimento se deu principalmente pelos casos registrados na região
Centro-Oeste, de 6 para 8 (33%) e Sul, de 1 para 3 (200%).
O
estado com o maior número de registros é o Pará, com 9. Rondônia e Mato
Grosso vêm a seguir com 5. O Pará apresentou crescimento de 50% no número de
assassinatos (6 em 2013, 9 em 2014) e Rondônia 400% (1 em 2013, 5 em 2014).
A
variação de maior destaque se deu entre as tentativas de assassinato. De 15
tentativas em 2013, o número saltou para 56 em 2014, crescimento de 273%. Esse
crescimento se deu em todas as regiões do Brasil, menos no Centro-Oeste, onde o
número caiu de 7 para 3.
Outros
dados que chamam a atenção são o número de despejos de campo e o de conflitos
relacionados à água. Em 2013, foram despejadas 6.358 famílias, número que
passou para 12.188 ano passado, um aumento equivalente 92%. O número de
famílias ameaçadas de despejo também cresceu: passou de 19.250 para 29.280,
aumento de 52%. Os casos de disputa por água têm crescido nos últimos 4 anos,
passando de 68 em 2011 para 127 em 2014.
Razões
De
acordo com Rubens Siqueira, da coordenação nacional da CPT, o aumento
da violência tem alguns motivos. “O modelo de desenvolvimento do Brasil se
agravando devido à opção prioritária pelo agronegócio. Ao mesmo tempo, as obras
de infraestrutura para a expansão de novas frentes do capital, tudo isso
impacta comunidades, impede novos assentamentos”, diz ele. Siqueira aponta uma
mudança no perfil das vítimas: “o aumento da violência contra os sem terra, até
então [no último período] era preponderante os casos contra comunidades
tradicionais, o que significa a retomada das ocupações pela reforma agrária”.
Em
relação à água, segundo Siqueira, o aumento do número de casos está relacionado
à crise hídrica. “Antes era relacionada apenas à seca no Nordeste, isto está
ocorrendo agora no Sudeste e Sul. Os conflitos também estão relacionados à
construção das hidrelétricas, a tendência, então, é aumentar também na
Amazônia”.
A CPT celebra
40 anos de existência em 2015, e 30 da primeira publicação do relatório anual.
Segundo o coordenador da entidade, um dos elementos que ainda persistem nos
casos de violência do campo é ausência de punição. “São mais de 1.700
assassinatos, mas apenas 108 casos apurados. A impunidade é uma característica
que não mudou, a violência se reproduz, aumenta, mas o comportamento é o
mesmo”. Siqueira apontou também algumas variações. “No início das
documentações, a violência era contra os posseiros, devido aos incentivos que a
ditadura dava aos empresários irem ao campo; depois, nos anos 80 e 90, tivemos
o boom das ocupações sem terra e, de lá pra cá, nós temos as populações
originais como vítimas dos conflitos.”
“Em 30 anos, infelizmente, nós temos concentração
de terra, menos direitos para os camponeses, mais violência e morte. Nós apenas
reciclamos a violência”, concluiu Rubens.
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