A exposição aos agrotóxicos causa inúmeros
efeitos à saúde e está ligada a vários tipos de câncer. Não é achismo ou
ativismo. É o que apontam vários estudos científicos ao longo das últimas
décadas.
Alheio
aos sucessivos alertas, o Brasil segue ocupando a liderança mundial de consumo
desses venenos.
Na
semana passada, em um feito inédito, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) se
posicionou contra o uso de pesticidas e recomendou a sua "redução
progressiva e sustentada" nas plantações. Alguém avisou o Ministério da
Agricultura sobre isso?
Segundo
documento divulgado pelo instituto, a liberação do uso de sementes transgênicas
no Brasil foi uma das responsáveis por colocar o país no primeiro lugar no
ranking mundial, já que o cultivo das sementes modificadas exige grande
quantidade desses produtos.
No
Brasil, a venda de agrotóxicos saltou de US$ 2 bilhões para mais de US$ 7
bilhões entre 2001 e 2008, alcançando valores recordes de US$ 8,5 bilhões em
2011. Ultrapassamos a marca de 1 milhão de toneladas, o que equivale a um
consumo médio de 5,2 kg de veneno por habitante. Para a indústria química, o
alto consumo é efeito colateral de um objetivo nobre: aumentar a produtividade
das lavouras brasileiras.
A
literatura científica aponta vários efeitos associados à exposição crônica aos
agrotóxicos, como infertilidade, impotência, abortos, malformações,
neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e
câncer.
MEDIDAS
Há
medidas muito concretas que o país poderia adotar para frear esse abuso. Por
exemplo, o fim da pulverização aérea, já banida em quase toda a Europa por
causar dispersão dessas substâncias nocivas no meio ambiente. Apenas uma
pequena parte do agrotóxico cai na planta, a maior parte fica no solo, na água
e nas comunidades que moram no entorno das plantações.
Mas
tanto a indústria quanto o setor da aviação agrícola argumentam que suprimir a
pulverização aérea reduziria em até 40% a produtividade das lavouras.
Outra
medida defendida pelos ambientalistas é o fim da isenção de alguns impostos que
o país a concede à indústria produtora de agrotóxicos. O preço de registro de
novos agrotóxicos também funciona como incentivo ao setor. É de no máximo US$ 1
mil. Nos EUA, custa até US$ 630 mil.
Por
último, o Brasil deveria banir a comercialização de princípios ativos proibidos
em outros países. Um dossiê de 2012 da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde
Coletiva) aponta que, dos 50 produtos mais utilizados nas lavouras brasileiras,
22 são proibidos na União Europeia.
LEITE
MATERNO
Outro
documento, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mostra que
grande parte do estoque de produtos organofosforados banidos na China em 2007
tem sido enviados ao Brasil.
Uma
consequência cruel do alto consumo de agrotóxico no país foi muito bem documentada
em 2011, numa pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso em parceria com a
Fundação Oswaldo Cruz: até mesmo o leite materno pode conter resíduos de
agrotóxicos.
O
estudo coletou amostras em mulheres do município de Lucas do Rio Verde (MT), um
dos maiores produtores de soja do país. Em 100% delas foi encontrado ao menos
um tipo de princípio ativo desses produtos. Em algumas, até seis tipos.
Qual
é a alternativa? Para a indústria, não há. Segundo ela, uma alimentação 100%
orgânica levaria a uma inevitável queda de produtividade e não só Brasil, mas o
mundo teria grande dificuldade de suprir alimento para a população.
Ambientalistas,
pesquisadores, produtores de orgânicos e o próprio Inca discordam. Dizem que se
houvesse apoio de políticas públicas, crédito, pesquisa e assistência
especializada seria possível construir um novo modelo agrícola, com alimentos
livres de agrotóxico. Essa é uma bandeira deveria ser encampada pelas redes
sociais. A saúde e o ambiente agradecem
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