sábado, 27 de junho de 2015

Carta da Aberta da PJMP da Arquidiocese de Fortaleza

Tenho que gritar, tenho que arriscar,
Ai de mim se não o faço!
Fortaleza, 27 de junho de 2015
"E, respondendo ele, disse-lhes:
Digo-vos que, se estes se calarem,
as próprias pedras clamarão"
(Lc 19,40)
No evangelho segundo São Mateus, encontraremos um dos mais conhecidos sermões de Jesus: O Sermão da montanha. Em três capítulos - 5, 6 e 7 - o evangelista tentou transmitir o que foi ensinado naquele dia à multidão e, quanta riqueza é possível encontrar nas palavras ali traduzidas! Nos versículos 13 e 14 do quinto capítulo, veremos Jesus utilizando-se metaforicamente de dois elementos básicos e fundamentais, o sal e a luz, em uma relação existencial e profética com a vida daqueles que desejam segui-lo. Um pouco mais a frente, no evangelho segundo São Lucas, em seu capítulo 19, versículo 40, veremos Jesus respondendo aos fariseus "... se estes se calarem, as próprias pedras clamarão".
Mas o que significa ser sal e luz hoje? O que estes evangelhos dizem aos cristãos deste século? Ou melhor, o que os evangelhos e a vida, morte e ressurreição de Jesus dizem a nós cristãos brasileiros? Quem são os fariseus de hoje e por que as pedras estão clamando? 
São seis meses desde que iniciamos este ano de 2015 e, o número de assassinatos, agressões físicas e\ou verbais, ameaças, manifestações de ódio e incitação à violência contra gays, travestis, lésbicas e transexuais já são assustadores. Anualmente, milhares de mulheres são assassinadas, estupradas, traficadas para fins sexuais, violentadas psicologicamente, humilhadas, assediadas nas ruas e em seus locais de trabalho, por seus companheiros, vizinhos, amigos, familiares, patrões ou por um desconhecido. Esta é a realidade das nossas cidades. Esta é a realidade de todas e todos que fogem (ou tentam fugir) do padrão heteronormativo, machista e patriarcal da nossa sociedade. 
Este ano, os Planos Municipais de Educação (PME) foram elaborados e aprovados dentro das Conferencias Municipais de Educação e, levados para votação nas respectivas Câmaras municipais. Em Fortaleza não foi diferente. Frente uma conjuntura de intensos retrocessos no que se refere, principalmente, a direitos conquistados historicamente e a partir de muita organização social e, diante desta disseminação de uma "cultura de violência" e intolerância das mais diversas, o PME de Fortaleza trazia artigos relacionados à identidade de gênero e diversidade sexual. No corpo dos textos, as propostas diziam sobre capacitação dos profissionais afim de dar-lhes condições de contribuir "para a pacificação de diálogos, a superação de preconceitos, discriminações, violências sexistas e homofóbicas no ambiente escolar, de modo que a escola se torne um espaço pedagógico, livre e seguro para todos". Sugeria-se, ainda, que dentro das escolas fosse garantido o "reconhecimento positivo e respeito à identidade de gênero". Entretanto, de forma arbitrária a câmara municipal de Fortaleza revogou a decisão das conferências.
Portanto, nós da Pastoral da Juventude do Meio Popular de Fortaleza, compreendendo a gravidade do momento que nosso país vive; Respeitando os espaços organizativos e deliberativos da sociedade civil; Vivenciando e partilhando com nossa juventude esta difícil realidade; Observando os ensinamentos de Jesus, sua orientação para sermos sal e luz e em comunhão com seu projeto libertador que inclui todas e todos; Apoiamos a discussão sobre identidade de gênero e diversidade sexual em todos os espaços possíveis(formações, debates, rodas de conversas) entendendo que só assim é possível superar esta triste realidade posta. E reafirmamos, em conformidade com a CNBB, o “compromisso da Igreja em se somar aos que combatem todo tipo de discriminação a fim de que tenhamos uma sociedade sempre mais fraterna e solidária”. (cf. CNBB - Doc. 47, n. 73)
Em meio a esta onda violenta, desumana e desumanizante, cega e vazia dos princípios de cuidado e valorização da vida, é inaceitável que enquanto cristãos silenciemos diante desta realidade de morte e sofrimento. Furtar-se deste debate é não "atirar a primeira pedra", mas permitir, a exemplo dos fariseus, que outros o façam às filhas e filhos de nosso Deus!!!

“Como escapar de ti, como calar,
Se tua voz arde em meu peito?”

Amém, Axé, Awerê, Aleluia!!!
Pastoral da Juventude do Meio Popular de Fortaleza

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